Porque THC e CBD não são Raquel e Rutinha

Uma é a má e a outra, a boa? A novela sobre THC e CBD atende a interesses comerciais e políticos bem claros. Entenda mais sobre esta relação em mais um texto de Gabriel Murga para o Smoke Buddies.

Uma decisão tomada recentemente pode colocar em xeque uma boa parte da estratégia proibicionista contra a cannabis no Brasil. Em alguns dias, a ANVISA deve retirar da lista de substâncias proscritas o THC, exclusivamente para fins medicinais, por ora. Evidentemente ela pode recorrer e talvez o faça tentando segurar o muro de Berlim canábico, que já ruiu, mas insiste-se em tentar não deixar cair.

O alvo da vez é velho conhecido e pesquisado há cerca de vinte anos em Israel na seara médica. O delta-nove-tetraidrocanabinol é responsável pelo conhecido ‘barato’ ou ‘onda’. Também pelo torpor e pelas reações psicossomáticas de bem-estar, relaxamento e larica. E pela sua eficiência no tratamento das condições associadas ao tratamento tradicional. Os pacientes de doenças graves como AIDS, Câncer, Esclerose Múltipla, dores Crônicas e dezenas de enfermidades conhecem muito bem as propriedades medicinais desta molécula de carbono.

Sim, medicinais. E essa é uma das maiores vergonhas históricas que se desenham pela proibição da maconha: sua restrição como fármaco.

Catalogado inicialmente no Pen Tso’o Ching, um dos registros mais antigos do mundo sobre a farmacopéia mundial.
(Indígena e a flora medicinal, diria o grande João Nogueira – https://www.youtube.com/watch?v=WrM-96JbphM).

O preconceito ainda faz com que seja ensejada por dezenas de médicos que preferem atribuir a erva, e especialmente ao THC, a pecha de ‘experimental’ ou ‘pouco confiável com relação aos potenciais efeitos negativos’.

Essa substância, uma das centenas de componentes presentes na maconha, e certamente umas das com maior potencial ainda encontra-se na categoria F2, da ANVISA, considerada sem valor médico ou pra pesquisa científica, segundo a portaria nº 344/98.

Agora, porém, segundo determinação da 16ª Vara Federal à Anvisa deverá retirar o THC da lista para incluí-lo na lista das substâncias sujeitas à notificação de receita. O que, na teoria pode fazer com que seja receitada pelos médicos, embora alguns ainda sejam reticentes.

Entretanto em ‘off’, ou seja, perguntados informalmente não costumam recriminar o uso recreativo entre adultos, além de orientarem quanto ao uso, no caso de pacientes cuja necessidade médica ‘pareça’ maior que proibição. Um dos argumentos propagandeados aos quatro ventos é o que CBD sim, tem amplo potencial médico: desde que seja sintético ou importado (e caro!), dirão do fundo da Cripta.

Aos que preveem facilidade com essa decisão, lembro de modo pessimista que a Anvisa deve soprar a favor do Marinol (americano), Sativex (Europeu) e Nabilone (Canadá) e não do cultivo caseiro, ao menos a princípio. A pressão pelo cultivo caseiro é fundamental e deve ressoar cada dia com mais intesidade. Todavia, existe uma grande mudança com essa decisão.

Uma é a má e a outra, a boa? A novela sobre THC e CBD atende a interesses comerciais e políticos bem claros

Uma é a má e a outra, a boa? A novela sobre THC e CBD atende a interesses comerciais e políticos bem claros

Precisamos soterrar de uma vez por todas o mito do ‘CBD bom’ e do ‘THC Mau’. Acabou. Não podemos crer mais ainda em 2015 que: “Raquel-THC-é-má x Rutinha-CBD-é-boa”. Essa cisão é política e transforma uma discussão séria em novela.

Estamos longe de um último capítulo com relação ao uso da maconha no Brasil, em sua ampla potencialidade e enquanto isso, milhares de pessoas sofrem todos os dias física e mentalmente por não terem o acesso real a esse remédio milenar.

Vamos parar de novela e assumir o controle?

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Sobre Gabriel De Lucia Murga

Assessor de imprensa, relações públicas e jornalista freelancer formado pela UERJ. Já trabalhou na Folha de São Paulo, no jornal Lance!, na assessoria de imprensa da Árvore de Natal da Bradesco Seguros (entre 2012 e 2014) e no escritório brasileiro da Anistia Internacional (entre 2016 e 2018). Colabora regularmente para a Smoke Buddies e Socialista Morena. Já colaborou com a revista Cáñamo na Espanha e no Chile, a Diga Communications UK, o Prêmio Gilberto Velho Mídia e Drogas 2017, entre outras organizações públicas e privadas. Lançou seu primeiro livro em 2018, "Brisas" pela Autografia Editora, e seu primeiro trabalho como compositor de música brasileira, o EP "77 Rotações". Contato, críticas e sugestões em: gabrieldeluciamurga@gmail.com
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