Pico da Neblina: “É como se fosse um Breaking Good”, diz Quico Meirelles sobre nova série

Henrique Santana e Luís Navarro durante gravação da série Pico da Neblina.

A série ficcional se passa em uma São Paulo onde a maconha foi legalizada e vai na contramão de produções como Breaking Bad, com personagens atuando dentro da lei. Saiba mais sobre o Pico da Neblina na reportagem do AdoroCinema.

A HBO Latin America se prepara para lançar em breve mais uma série original. Com direção geral de Fernando Meirelles e Quico Meirelles e produção da O2 Filmes, Pico da Neblina é uma ficção ambientada na cidade de São Paulo, onde a maconha foi legalizada de vez. Ao invés de seguir o caminho de produções como Breaking Bad, em que os crimes se sobressaem e movem toda a trama, neste caso veremos os personagens atuando dentro da lei e se acostumando com este novo cenário.

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Assim como no filme Cidade de Deus, Fernando Meirelles selecionou 18 atores a partir de um convite pelas redes sociais, dando, assim, oportunidades para pessoas que moram em regiões periféricas de São Paulo. Após passarem por oficinas de atuação, novos atores como Henrique Santana entraram para o elenco da série e passaram a atuar ao lado dos protagonistas Luís Navarro (Biriba) e Daniel Furlan (Vini).

A convite da HBO, o AdoroCinema acompanhou um dia de filmagens da produção Pico da Neblina na capital paulistana e conversou com a dupla de diretores e também com Navarro e Furlan. Confira a entrevista abaixo:

1) Como vocês chegaram a este projeto?

Luís Navarro: Quando o texto chegou até a mim, eu pensei: “caramba, isso está na minha embocadura, na periferia”. Após um longo processo, eu senti que precisava fazer este papel de qualquer jeito.

Quico Meirelles: Em 2012, logo quando foi aprovada a Lei da TV Paga para produzir conteúdo brasileiro, nós da O2 Filmes imaginamos que os conteúdos de séries iriam bombar. Então, na época eu reuni alguns amigos com alguns esboços de roteiros e começamos a pensar, fazer um brainstorm para ver se algum canal se interessaria por alguma ideia. Aí, o Cauê (Laratta, agora roteirista) deu uma ideia que basicamente era só o ponto de partida para a série: “e se a gente contasse a história de um cara que era traficante de maconha mas se vê confuso por ela ter sido legalizada no Brasil? O que vai acontecer, como ele se vira, o que vai acontecer com o país?” A O2 gostou muito da ideia e, então, começamos a desenvolver os 10 primeiros episódios.

Henrique Santana, Luís Navarro e Daniel Furlan.

#PraCegoVer: fotografia em primeiro plano de Henrique Santana, Luís Navarro e Daniel Furlan.

2) Existe uma preocupação em lidar com a temática da maconha, especialmente dado o momento político no país?

Daniel Furlan: Este assunto tem de ser lidado da forma natural possível. Quanto mais a gente perder o medo quando falarmos neste assunto, melhor. É melhor do que ficar tratando como um tabu. Eu nem reflito muito sobre isso, eu já saio falando mesmo porque esta é a melhor coisa que podemos fazer.

Luís Navarro: É o que é o legal na série é que parece que o assunto específico é secundário; o grande lance é a amizade entre Biriba e Salim, a aproximação entre dois mundos, entre o racismo e essa coisa de querer vencer na vida. Todos eles querem ser felizes. A maconha é algo secundário. Eu também nem penso muito, apesar de ser a favor da legalização.

Quico Meirelles: Para mim é o contrário de preocupação. Por este ser um tema controverso, eu acho muito bom porque ele gera curiosidade, barulho e interesse.

Fernando Meirelles: Sou totalmente favorável a legalização da maconha. Principalmente o primeiro episódio levanta uma discussão de legalizar ou não a maconha, os prós e os contras e etc… E eu acho que vai acontecer. No mundo inteiro isso está acontecendo de várias maneiras, e eu acredito que mais cedo ou mais tarde isso também vai acontecer no Brasil. Já existem projetos na câmara e no congresso. A série está esquentando um tema que, daqui 1 ano ou 2 anos, será realidade

3) Vocês se inspiraram em algum filme ou série para realizar Pico da Neblina?

Quico Meirelles: Tudo na arte é inspiração. Você pega inúmeras referências de fora para que, no fim, isso vire algo específico com as circunstâncias da série. Tivemos muitas inspirações na sala de roteiro e agora com os fotógrafos. Temos um hall bem grande e estamos tentando fazer dentro delas algo nosso, algo específico. Mas uma coisa que toda sala de roteiro deve pensar em obras como essa é na série Breaking Bad. É uma referência porque tem um paralelo aí, pois o nosso protagonista era do mundo das drogas e que resolve ir para o mundo legal. A gente fala que a série é como se fosse um “Breaking Good”.

Luís Navarro: O mais legal é que as séries americanas tratam muito essa coisa shakespeariana do poder; e essa coisa latina que temos no Brasil é a relação interpessoal. Tratamos primeiro a relação, o afeto, antes do poder. Busquei referências em Narcos, Breaking Bad para me ambientar, mas a minha ideia é fazer algo diferente.

Fernando Meirelles e Quico Meirelles.

#PraCegoVer: duas fotografias, lado a lado, de Fernando Meirelles e Quico Meirelles.

4) O que vocês podem falar sobre a trilha-sonora? Qual será o papel dela na série?

Quico: Não podemos falar muito no momento, mas quem vai fazer a trilha é o Daniel Ganjaman, produtor de Sabotagem, Crioulo e Mano Brown. Ao invés dele criar músicas, ele vai reunir músicos e pensar nas melhores opções para compor nossa trilha.

Fernando: Ao invés de chamarmos um músico, convidamos um produtor musical. Temos um curador de música deste universo que vamos trabalhar e estamos bem animados com isso.

5) Como vocês enxergam a oportunidade da HBO exportar cada vez mais produções nacionais para o mundo?

Quico: A graça é que saia daqui porque, se for parar só nos assinantes da TV fechada, o legal é que não seja só aqui no Brasil. Alguém nos Estados Unidos pode estar lá na HBO zapeando e encontrar uma série brasileira.

Daniel: Por ser um país que fala português parece que ficamos limitados às vezes. São muitos formatos, muitas séries e filmes que seriam exportadas, mas que precisam de um empurrão muito maior pra isso ser consumido lá fora. Estamos fazendo um esforço enorme neste sentido e eu acho ótimo.

Luís Navarro: Parece que o mercado de fora precisa vir salvar os negros de papéis periféricos ou estereotipados. E está aí a nossa chance no streaming: da coisa mais aberta ao mundo que se torna algo mais real e mercadológico ao mesmo tempo.

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de Henrique Santana e Luís Navarro durante gravação da série Pico da Neblina. Créditos: Alile Dara – Divulgação.

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