PELO FIM DA INTERVENÇÃO MILITAR

Agente militar das Forças Armadas segurando um fuzil apontado para baixo e olhando para cima, e ao fundo outros militares observam o morro, durante intervenção realizada na favela da Rocinha.

Há alguma forma de pensar no Rio de Janeiro sem relacionar o nome à violência desenfreada? Em apenas uma manhã, mais de 10 tiroteios acontecem nas favelas cariocas, em uma verdadeira guerra entre policiais e traficantes. O advogado, ativista e candidato a Deputado Estadual pelo RJ, André Barros, aborda exatamente essa questão em sua coluna de hoje: “A favela nunca saiu do estado de exceção”.

No dia 28 de agosto de 2018, fiz o meu programa eleitoral ao vivo na minha página do Facebook. Inicialmente, o tema seria “ A Maconha é nossa”, mas, diante do que aconteceu hoje cedo nesta cidade, inseri o seguinte drama: “O Terrível amanhecer no Rio de Janeiro”. A favela nunca saiu do estado de exceção. Do chicote às rajadas de metralhadora, o ódio das elites aos negros e pobres está fincado em nossas raízes. O racismo é uma política de Estado histórica e seu reconhecimento por nossa sociedade é fundamental para começar a mudar nossa política de segurança pública e realidade social.

O que aconteceu nesta manhã no Rio tem diferença, é o racismo em grande escala. Na mesma manhã, ocorreram tiroteios em 11 favelas do Rio de Janeiro e outros em outras cidades do Estado. Isso demonstra que as forças de segurança atuaram como se toda a cidade estivesse em guerra contra as favelas. Trata-se de uma política que só interessa ao mercado de compra e venda de armas e munições. Esse mercado precisa da guerra para obter bilhões de lucro. O governo Temer, através do BNDES, disponibilizou 40 bilhões para a segurança pública nos próximos anos.

Querem uma guerra generalizada no Rio de Janeiro para justificar a repressão contra todos os pobres do Brasil, sob o argumento de que ninguém pode aceitar a condição em que está o Rio de Janeiro. Mais de R$ 1 bilhão evaporaram até agora nessa guerra aos negros e pobres, onde os próprios comandantes da polícia e das forças armadas admitem que se trata de uma política de segurança de “enxugar gelo”, pois, além de nada mudar, só vem deixando as coisas ainda piores.

Essa intervenção deve ser imediatamente interrompida, e devem cessar principalmente essas terríveis invasões às favelas. Ao que parece, pretendem despejar mais bilhões em armas e munições para aumentar o tiroteio em nossa cidade e Estado. Toda essa política racista traz grande prejuízo para todo o Estado. Quem vai querer vir passear pelo cartão postal do Brasil com toda essa violência?! Buscam acabar com nosso Estado já sem rumo, diante do assalto perpetrado por empresários em licitações públicas combinadas e sustentadas no governo Sérgio Cabral, na sua quase total base de apoio na ALERJ, apoiado por 60 parlamentares em 70 cadeiras e 6 conselheiros de 7 cadeiras no Tribunal de Contas do Estado, órgão que supostamente deveria fiscalizar as contas públicas. Enquanto isso, o Procurador-Geral de Justiça, que deveria denunciar a malversação e os crimes praticados pelo governador e seus secretários, bem como os deputados e conselheiros do TCE, recebia uma mesada de R$ 150 mil por mês para blindar e não acusar ninguém de todos esse esquema!

Além da imediata paralisação dessas operações militares racistas nas favelas, outra medida urgente é investigar como essas milhares de armas e munições chegam às mãos de jovens, negros e pobres, que sequer concluíram o ensino fundamental. O Rio de Janeiro precisa ter uma imediata política de desarmamento.

Concomitante a essas medidas, precisamos legalizar a venda de maconha nas favelas como o início de outra política de segurança pública. Esses bilhões do PIB da maconha, que existe, mas não são computados pela ilegalidade, deveriam ficar nas favelas. Como uma oportunidade para a juventude realizar seu comércio em paz sem armas e munições. Legalizar a venda da maconha nas favelas deve ser uma medida imediata de segurança pública e reparação social.

*ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ e candidato a Deputado Estadual pelo PSOL no nº 50.420.

#PraCegoVer: fotografia (de capa) de um agente militar das Forças Armadas segurando um fuzil apontado para baixo e olhando para cima, e ao fundo outros militares observam o morro, durante intervenção realizada na favela da Rocinha.

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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