O verdadeiro carnaval de rua

Desfilei durante 25 anos na bateria do Império Serrano. Hoje, já aposentado do ritmo imperiano, toco em vários blocos de amigos e de causas. Depois de uma noite no baile de máscaras do nosso Planta na Mente, não dormi praticamente nada para sair na bateria do Laranjada pela manhã.

Depois do desfile, desci com alguns amigos as ruas de “Laranjeiras”. Paramos num bar do bairro, bebemos algumas e comemos muito bem. Mas terminei no bar perto da minha casa em Copacabana. Sentamos na ponta no estabelecimento. Todos foram embora e fiquei sozinho na mesa do boteco. Pedi a última para ir pra casa, quando vi um senhor de quase setenta anos se aproximar com um papelão.

No canto do prédio ao lado do bar, carregando uma garrafa de água, ele colocou o maior papelão como colchão e um menor em cima como travesseiro. Sem tirar o tênis, decerto para não ser roubado, muito cansado, deitou e rapidamente dormiu. Não parecia estar bêbado, dormiu de cansaço mesmo.

Ele pode ter dormido ali por várias razões. Mas a principal é a absurda desigualdade social e regional, inclusive reconhecida em nossa Constituição Federal, em seu terceiro artigo, que tem como seus objetivos a sua redução, mas que não é cumprida.

Lembrei das manifestações de 2013, que pouco ensinaram aos poderes constituídos de nosso país, pois esses não conseguiram ouvir a multidão das ruas e continuam apenas pedindo mais polícia e repressão aos movimento sociais.

Em 2014, precisamos de mais manifestações para que senhores como aquele, com a idade de nossos pais e avós, não continuem dormindo na rua.

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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