O TEMPORAL POLÍTICO DO RIO DE JANEIRO

Ilustração mostra um pequeno carro branco sob uma chuva de balas (projéteis) que cai de uma nuvem com as cores da farda camuflada do exército. Rio de Janeiro.

No Rio de Janeiro, como se não bastassem os assassinatos racistas e institucionalizados que assolam o estado, áreas como saneamento seguem precárias, causando ainda mais mortes. Entenda mais sobre o tema no texto do advogado e ativista Dr. André Barros.

Evaldo Rosa, negro, músico, 51 anos, foi assassinado com 3 dos 80 tiros disparados pelo exército brasileiro contra seu carro, na região militar de Guadalupe, onde estavam seu sogro, atingido pelos disparos, hoje hospitalizado em estado grave, sua esposa e filho. Um morador em situação de rua, que tentou ajudar, também foi alvejado e está gravemente hospitalizado. Além da família sequer ter sido procurada por qualquer autoridade, o caso, que é da competência do Tribunal do Júri, foi parar na Justiça Militar, trazendo desconfiança sobre todo o seu julgamento. Não se trata de fato isolado, mas inserido na histórica política racista de segurança pública de Estado, que construiu uma das cidades de maior desigualdade social do planeta.

Dias depois desse brutal assassinato racista, a cidade do Rio de Janeiro foi vítima de um enorme temporal anunciado pela própria Prefeitura, que retirou verbas de programas para prevenção de enchentes, mesmo depois do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) ter dobrado, quer dizer, foi aumentado em cerca de 100%. Além de nada ter sido aplicado na manutenção de galerias e bueiros, a Prefeitura de uma cidade com mais de 6 milhões de habitantes destinou apenas 20 funcionários para a situação de emergência!

Todos esses crimes ocorreram após a cidade ter recebido os maiores eventos do planeta como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, onde bilhões foram mal aplicados, desviados e assaltados em licitações públicas nas quais os preços e os vencedores dos certames eram combinados por empresários bilionários. As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) foram verdadeiras farsas. Levaram mais violência às favelas e a toda a cidade, com a farsa da guerra às drogas que todos já sabem que na realidade não passa de uma guerra aos pobres. A mentira da conquista de territórios aconteceu para a cobrança escorchante de luz, tv a cabo e internet do capital oficial, mantendo todos os serviços ilegais de transporte, gás etc. cobrados por milícias de sistemas de lavagem de dinheiro no mercado imobiliário e bancário. Os investimentos sociais que chegariam com as UPPs ficaram só nas promessas e na hipócrita cobrança do Secretário de Segurança Pública Beltrame a seu próprio governo Cabral. Tendo vivido momentos de glória na mídia golpista, Beltrame era apontado como sucessor de Sérgio Cabral. Ambos foram responsáveis pela forte repressão às manifestações que levaram, em junho de 2013, milhões de pessoas às avenidas do Rio de Janeiro, denunciando a atualmente pública e notória grande farsa que foram aqueles megaeventos.

O Bispo Crivella da Igreja Universal e Prefeito da cidade coloca a culpa na natureza e repete sem parar que acionou as sirenes. Só falta ele dizer que recebeu o aviso de Deus. Nossa Prefeitura é administrada pelo Nada. Witzel sumiu depois dos oitenta tiros contra uma família indefesa e as mortes do temporal que aconteceram na capital do Estado que governa. Rodrigo Maia, Presidente da Câmara dos Deputados do país, que mora em São Conrado, ao lado do Vidigal e na frente da Rocinha, duas das regiões mais afetadas pelo temporal, nada disse. Bolsonaro, que habita em bairro vizinho, não deu um pio sobre tudo que aconteceu.

Da mesma forma que é política a lama da Vale em Brumadinho, o temporal do Rio de Janeiro também é político!

Leia também: BOLSONARO MANDA COMEMORAR TORTURAS, ASSASSINATOS E DESAPARECIMENTOS DO GOLPE MILITAR

#PraCegoVer: ilustração (de capa) mostra um pequeno carro branco sob uma chuva de balas (projéteis) que cai de uma nuvem com as cores da farda camuflada do exército. Créditos da ilustração: Ulisses Araujo.

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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