MILITARISMO, MACONHA E ACUMULAÇÃO DE CAPITAL

O militarismo trouxe para o Brasil a escravidão – e junto dela, a proibição racial contra a maconha e a guerra às drogas. Mas a quem interessa a proibição? Entenda mais sobre esse contexto tupiniquim nas palavras do advogado e ativista André Barros, em sua coluna semanal na Smoke Buddies.

O militarismo construiu a acumulação de capital em toda a sua história, desde o período da chamada acumulação primitiva. Teve um papel determinante na conquista do Novo Mundo. A escravidão dos índios e negros foi realizada com o militarismo. As velas e cordas das caravelas militares, que chegaram ao Brasil, eram feitas de cânhamo.

O militarismo avançou com a revolução industrial, que massificou a produção de armas, proletarizou violentamente índios, negros e camponeses e impôs o trabalho assalariado nas colônias. O militarismo sempre foi a arma da concorrência dos países capitalistas.

Com a chegada da família real, foi criada no Rio de Janeiro uma polícia militar, para proteger a coroa de Portugal e reprimir os negros. Os capitães do mato formaram essa polícia militarizada para impedir que os negros escravizados buscassem a liberdade nos quilombos da cidade. Toda a cultura dos negros foi perseguida.

Em 1940, entrou em vigor o Código Penal que descriminalizou a umbanda e a capoeira, mas criminalizou a maconha. O hábito de fumar a maconha foi trazido pelos negros da África e sua perseguição existente até hoje é militar. As pequenas bocas de fumo, que só vendiam maconha, tinham apenas alguns revólveres. Eram invadidas por batidas policiais como as entradas nos quilombos.

Com a venda da cocaína nas bocas nos anos 80 do século XX, veio o armamento pesado. O principal mercado dessa farsa denominada guerra às drogas é o das armas. Para os fabricantes de fuzis, munições e outros materiais de guerra, a existência da polícia e do tráfico militarizados é a grande fonte de acumulação de capital. A militarização histórica, desse sistema penal econômico racista, é que construiu no Rio de Janeiro uma das maiores desigualdades sociais do planeta Terra.

Todas essas armas e militares são pagos pelos pobres, através de impostos indiretos. Qualquer mercadoria é tributada igualmente. Pela mesma Coca-Cola, por exemplo, miseráveis e milionários pagam os mesmos impostos, que é a maior fonte de renda do Estado. Essa é a perversão, o pobre financia sua própria morte e opressão.

É a história da escravidão de nosso capitalismo periférico que vai explicar a entrada de uma polícia militarizada hoje nas favelas. Uma guerra clara, mas não declarada, de uma polícia que não é polícia nem militar. Se é uma guerra, quais os comandantes que vão responder pelos crimes de guerra? Até numa guerra existem regras. Não se pode atacar nas proximidades de escolas e creches cheias de crianças!

Essa farsa chamada de guerra às drogas só interessa à indústria armamentista, que acumula capital com armas e munições carregadas pelas mãos de jovens, negros e pobres da polícia e dos escravos do tráfico.

Contra toda essa farsa, no dia 6 de maio de 2017, compareça à Marcha da Maconha do Rio de Janeiro, às 4:20 horas da tarde no Jardim de Alah, em Ipanema.

Leia também:

LEGALIZAÇÃO DA MACONHA E FIM DA PM – PARTE 1

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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