Mercado imobiliário americano é impulsionado pela legalização da maconha

Em mais de duas dezenas de Estados que legalizaram a maconha, fábricas, armazéns e instalações de armazenamento estão sendo readaptados para o cultivo e o processamento da planta e seus derivados. Novo setor está remodelando vizinhanças antes arruinadas e empurrando para cima os valores dos imóveis. As informações são do NYT, via Estadão.

Na beira de um parque industrial em Quincy, subúrbio ao sul de Boston (EUA), depois de um estabelecimento de leilão de carros usados e uma fábrica de laticínios extinta, há um armazém sem qualquer indicação de finalidade, repleto de câmeras de segurança e fervilhando de atividade. Até recentemente, a construção de blocos de concreto abrigava de uma floricultura atacadista, uma cortadora de granito e uma impressora de silkscreen. Hoje, abriga apenas um inquilino: uma operação de maconha para fins medicinais chamada Ermont.

A maconha legalizada já subverteu normas sociais, criou uma grande área cinzenta e gerou uma fonte lucrativa de arrecadação fiscal. Agora ela também está virando de ponta cabeça o mercado imobiliário.

Em mais de duas dezenas de Estados que legalizaram a maconha, fábricas, armazéns e instalações de armazenamento estão sendo readaptados para o cultivo e o processamento de plantas e derivados de maconha. Shoppings de rua e edifícios estilo Beaux-Arts foram readaptados como fachadas de lojas para a venda de baseados e produtos comestíveis à base de maconha.

E como o negócio da maconha vem com bagagem adicional, senhorios e donos de imóveis estão cobrando um ágio de novos inquilinos que trabalham no ramo da cannabis. Em Quincy, a Ermont está pagando acima da taxa de mercado pelo edifício de 36 mil metros quadrados antes dilapidado.

“O senhorio sabia que estava sentado sobre uma mina de ouro”, disse Zach Harvey, um dos apoiadores financeiros da Ermont.

Os incorporadores de imóveis comerciais dizem que nunca viram uma mudança tão rápida em tantos lugares ao mesmo tempo. De Monterey, na Califórnia, a Portland, no Maine, o novo setor está remodelando vizinhanças antes arruinadas e empurrando para cima os valores dos imóveis. Em alguns bairros de Denver, o preço médio de aluguel pedido para espaço de armazéns aumentou mais de 50% de 2010 a 2015, segundo um relatório do setor. Na cidade como um todo, há cinco vezes mais lojas de varejo de maconha do que lojas isoladas da Starbucks.

Roland Hughes trabalha nas instalações da Ermonts, um dispensário de maconha medicinal em Quincy. Foto: Adam Glanzman/The New York Times

Wall Street também está faturando. Alguns meses atrás, um fundo de investimento imobiliário focado no aluguel de espaço de armazéns para plantadores começou a ser negociado na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).

O forte aumento dos preços de imóveis acompanha a expansão do mercado da maconha legal. As vendas de cannabis legal atingiram US$ 6,7 bilhões nos Estados Unidos, no ano passado, e devem alcançar US$ 20 bilhões até 2021, segundo Acrview Market Research.

“Este é um novo segmento no mercado de imóveis industriais que está sendo criado diante de nossos olhos”, disse George M. Stone, um veterano executivo do setor imobiliário agora dedicado ao negócio da maconha. “É um setor enorme e só está aumentando.”

Há preocupações latentes, no entanto, de que uma nova bolha imobiliária possa estar se formando. Por enquanto, milhões de dólares estão sendo gastos para transformar velhos armazéns em ambientes apropriados ao cultivo da maconha. Os armazéns estão em voga por uma série de razões: eles são grandes o suficiente para abrigar milhares de plantas, podem acomodar os controles climáticos necessários, e são privados e relativamente fáceis de proteger. E ademais, como ainda é ilegal transportar maconha cruzando fronteiras estaduais, o produto tem de ser cultivado no Estado onde é vendido.

À medida que o setor amadurecer, muitos executivos creem que inquilinos e investidores que estão gastando dinheiro graúdo nesses projetos poderão ficar no vermelho. Conforme as especulações teóricas, em última instância, os plantadores provavelmente recorrerão a estufas menos caras. E se os regulamentos federais sobre o transporte de maconha forem abrandados, dispensários em Boston em breve poderiam vender brotos cultivados em estufas da Califórnia.

Existe também uma ameaça pendente de que o governo federal, que ainda classifica a maconha como substância ilegal, possa reprimir o nascente setor. O procurador-geral, Jeff Sessions, já manifestou seu desapreço ao movimento pela legalização.

Por enquanto, porém, essas preocupações estão sendo deixadas de lado pelo que parece uma oportunidade imperdível para todos os envolvidos: os donos de imóveis que podem cobrar acima das taxas de mercado, as organizações imobiliárias que lucram sublocando a plantadores, e plantadores que ganham dinheiro suficiente para cobrir os altos aluguéis.

A alta dos preços imobiliários no ramo da maconha ainda está concentrada em alguns Estados que legalizaram o uso médico e recreativo do produto. E, em alguns lugares, o setor só está começando porque os eleitores tomaram sua decisão há alguns meses apenas.

Funcionário embalando maconha legal na loja New England Treatment Access, localizado em um antigo banco em Massachusetts.

No Estado do Maine, a legislação que permite o uso recreativo da maconha entrou em vigor em janeiro. Fábricas e armazéns perto de Portland, que antes produziam e armazenavam partes de casas pré-moldadas, vergalhões de aço e pneus, já estão repletos de pés novos de maconha. “São fábricas que estavam paradas”, disse Drew Sigfridson, um corretor local da Boulos Company.

Na Califórnia, Estado que aprovou a maconha para fins medicinais em 1996 e para uso recreativo em novembro passado, estufas no Condado de Monterey que antes produziam rosas e tulipas agora cultivam pés de maconha com nomes como Grape Ape e Buddha’s Sister. Chuck Allen, um corretor de imóveis comerciais da Keller Williams Realty, que trabalha em Monterey, disse que nos últimos anos, mais de 20 grandes transações no valor aproximado de US$ 100 milhões foram fechadas, e que os preços estão em alta. / Tradução de Celso Paciornik

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