Marcha da Cannabis Medicinal em Cuiabá gera polêmica

foto com várias pessoas segurando cartazes com dizeres que defendem o uso de maconha, auto cultivo, uso teraoêutico e fim do preconceito. Marcha da Cannabis Medicinal.

No sábado, 15 de julho, aconteceu em Cuiabá (MT) a Marcha da Cannabis Medicinal organizada principalmente pela associação mato-grossense ASPAMPAS

Teria sido apenas mais uma manifestação dentre tantas que acontecem no Brasil sobre o tema, no entanto, o nome Marcha da Cannabis Medicinal escolhido para a manifestação gerou polêmica entre os ativistas que promovem Marchas da Maconha pelo Brasil. Muitos se expressaram de forma indignada com a escolha do nome nas redes. 

A polêmica começou por que utilizaram da estética original que já é tradicional nas “Marchas da Maconha” para o panfleto. Existe uma grande discussão sobre a utilização do termo cannabis medicinal, uma vez que todas as plantas possuem propriedades terapêuticas e, colocando dessa forma, pode-se entender que existe a cannabis medicinal e a que não é terapêutica. O termo escolhido como não medicinal acaba sempre relacionado à palavra maconha, que é uma expressão popular para definir a mesma planta. 

A indignação dos ativistas se fundamenta também no argumento de que setorizar uma defesa da cannabis terapêutica e continuar a criminalizar a maconha pode ser uma contradição. E, neste caso, o uso do termo estaria alinhado aos interesses da indústria que lucra com a proibição da planta. No Brasil, se faz urgente a defesa da descriminalização e regulamentação reparativa das atividades relacionadas à planta, seja para uso adulto ou terapêutico.  

Mulher de cabelo curto segura moldura com os dizeres MACONHA SALVA

Carol Meireles – presidente da Associação ASPAMPAS. Crédito: divulgação.

Uma abordagem estratégica

A redação da Smoke Buddies procurou a organização da Marcha para contextualizar e entender as peculiaridades da região. Conversamos com Carol Meireles (CM), que é presidente da ASPAMPAS, associação canábica do estado do Mato Grosso e principal idealizadora da manifestação. Na entrevista, ela argumenta que o uso da nomenclatura foi estratégico, visando atrair um público fora da bolha para, com paciência e afeto, introduzir o tema de maneira ampla. Segundo ela, a cidade tem uma maioria conservadora que poderia não comparecer apenas pelo uso do nome maconha. 

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SB: Por que a escolha do termo “cannabis medicinal”?

CM: Trouxemos essa nomenclatura para trazer a questão do uso dos medicamentos à base de cannabis e, principalmente, por uma questão de preconceito. A palavra MACONHA ainda carrega uma grande demonização, a planta passou por esse processo por séculos.

Durante o nosso evento, por várias vezes ouvimos coisas do tipo “não gosto de maconheiro”, quando as pessoas olhavam para nossas faixas e camisetas, mas, quando entregávamos os informativos e falávamos do medicamento, nos olhavam com outros olhos.

Falamos sobre a questão de políticas antidrogas, cultivo associativo, e queremos trazer a questão recreativa em nossos próximos encontros. Tivemos médicos, farmacêuticos, pacientes, jardineiros, e muitas mães de filhos com patologias raras, em que suas vidas dependem da maconha.

SB: É uma discussão com muitas ramificações possíveis, bom que atraiu as pessoas, né?  Mas pode ser importante também orientar que maconha e cannabis é a mesma planta pra ir quebrando aos poucos esse preconceito.

CM: Sim, o Mato Grosso é um estado que respira o agro, e a ASPAMPAS também traz essa questão do cultivo para fins comerciais, para agricultura, assim como algodão, soja e milho, para beneficiamento inclusive da fibra do cânhamo.

Fizemos a distribuição de mudas de plantas medicinais, junto com o informativo da maconha, trazendo essa questão que a maconha é uma planta, assim como boldo, a camomila, e também possui benefícios à saúde, para desmistificar a planta.

Diálogos que elucidam e constroem novas perspectivas

A redação também procurou Paulo Mariante, advogado antiproibicionista e uma das lideranças da Articulação Nacional de Marchas da Maconha, que comentou o caso:

“Embora nós da Articulação Nacional de Marchas da Maconha façamos a defesa de que a legalização deve ser geral e não fragmentada entre o uso medicinal, ou terapêutico, e os demais usos, é importante observar que o objetivo da marcha é o de combater a desinformação e o preconceito contra a maconha, ainda que utilizando a terminologia ‘cannabis’.

Nós sabemos que nenhum lugar do Brasil é fácil, a gente tem até visto tentativas de proibição de Marchas da Maconha. Mas, respeitamos o esforço da organização dessa militância de Cuiabá e, quem sabe, mais pra frente Cuiabá tenha também sua Marcha da Maconha. É importante respeitar as peculiaridades e questões locais e mais do que tudo dialogar para ampliar a nossa força. Exatamente, com mais marchas acontecendo pelo Brasil inteiro nós vamos ter perspectivas melhores de um avanço na legalização e descriminalização.”

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Foto de capa: Divulgação ASPAMPAS.

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Sobre Ingryd Rodrigues - Comunicannabis

Jornalista (UFOP), ativista e comunicadora social, criadora do projeto Comunicannabis. Atua também como terapeuta canábica na Associação Flor da Vida, conselheira do Instituto Terapeutas Canábicos e integrante da Marcha da Maconha BH e da Articulação Nacional de Marchas da Maconha. Produz em parceria ao Cannabis Monitor o podcast Maconhômetro Imprensa que entrevista jornalistas que cobrem politicas de drogas no país.
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