Mães se unem no cultivo de maconha medicinal para tratamento dos filhos
As duas mães de Marília obtiveram na Justiça o direito de cultivar maconha em casa e extrair o óleo da planta. Agora, com o conhecimento adquirido com a mãe de Campinas, elas pretendem iniciar o plantio. As informações são do ACidade ON.
A moradora de Campinas que conseguiu na Justiça o direito de plantar maconha em casa para tratar a filha com TEA (Transtorno do Espectro Autista) recebeu no último sábado (16) duas mães de Marília, no interior de São Paulo, que obtiveram a mesma determinação judicial para conversar sobre o cultivo da planta e os métodos de tratamentos dos filhos.
Claudia Marin e Nayara Mazini conseguiram em fevereiro o direito de importar sementes de Cannabis para fazer o plantio e produzir o óleo de CBD (canabidiol) em casa. A medicação será usada para tratamento de Epilepsia de difícil controle dos filhos, promovendo qualidade de vida, da mesma forma utilizada por Ângela.
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Apesar de já utilizarem o óleo derivado da planta no tratamento das crianças, e virem se dedicando aos estudos sobre o uso medicinal da Cannabis, as mães de Marília não possuem experiência com o plantio. Elas então entraram em contato com Ângela, que concordou em ajudá-las, uma vez que obtiveram a mesma decisão da Justiça para o cultivo da planta. Nesse sábado, a campineira as recebeu para mostrar seus métodos para produzir o óleo de CBD.
Como as mães não possuem experiência alguma com plantio, Ângela partiu do básico, discutindo com elas sobre as diversas etapas do cultivo e as dificuldades com pragas e alterações de clima e temperatura.
Ela, que já fez uso do óleo de CBD importado e integral, plantado em casa, valoriza a produção caseira. “Integral é infinitamente melhor”, explicou.
MÃES
Claudia é mãe de Matheus, um garoto de 11 anos portador da Síndrome de West que sofre com epilepsia de difícil controle. “Ele chegou a ter 80 crises convulsivas por dia”, explicou. Desde 2014, ela faz uso do óleo de CBD, uma medicação produzida com a maconha, para tratar as crises do filho.
A medicação no início era fornecida pelo governo após autorização da ANVISA e, posteriormente passou a ser importada pelos próprios pais. Em 2016, a medicação parou de chegar. “Sempre encontravam um problema com a documentação e não entregaram mais”, disse. Além destes problemas, o custo sempre foi alto: chegou a custar cerca de R$ 2,5 mil por mês. Com o cultivo e extração do óleo, ela prevê que os custos caiam em mais de R$ 1 mil mensais.
A qualidade de vida e benefícios terapêuticos que a maconha medicinal proporciona às crianças são enormes, segundo a mãe, afirmando que o medicamento praticamente zerou as crises epiléticas diárias que ele sofria.
O alto custo para adquiri-la, no entanto, era um problema. Isso fez com que Cláudia recorresse à Justiça para ter o direito de fazer a produção do óleo. A ação foi feita juntamente com Nayara, mãe de Letícia, de 6 anos que também sofre com severas crises epiléticas (Síndrome de Lenox Gastaut) e teve inúmeras melhorias com o uso da Cannabis Medicinal. “Minha filha é outra criança depois que passou a usar o medicamento”, disse Nayara.
JUSTIÇA
Na ação, elas argumentaram o alto custo da medicação e como isso dificultava o tratamento das crianças. O juiz federal Luiz Antônio Ribeiro Marins concedeu, em 1ª instância, um habeas corpus preventivo, ou “Salvo Conduto”, que autoriza as mães a comprar sementes de Cannabis para plantar e produzir o óleo de canabidiol utilizado no tratamento das crianças.
Em São Paulo, são apenas três casos que conseguiram na Justiça o direito de fazer a importação e fazer o plantio. No caso de Claudia, foi a primeira vez que duas mães fizeram o mesmo pedido em uma única ação.
Agora, elas terão um pouco mais de tranquilidade e menos custos para adquirir o remédio. Elas ainda não sabem dizer quando farão a aquisição das sementes, mas já se sentem vitoriosas com a decisão que garante a dignidade terapêutica aos seus filhos e têm esperança de romper com o estigma que a maconha carrega.
“Existe um preconceito com a Cannabis pela falta de conhecimento das pessoas e por toda a história propagada que fez parte da criação social de um tabu sobre a planta, associando-a ao tráfico”, explicou Nayara. “Cientificamente está comprovado seus diversos benefícios medicinais, e, quanto à legalização, como mãe e profissional da saúde, acredito que isso não potencializará o tráfico, uma vez que não precisaremos ir em pontos de venda para adquirir as sementes”, completou.
Com o conhecimento e experiências que trocaram com Ângela, as mães já se sentem mais confiantes para importar as sementes e iniciar o plantio. Como o cultivo demora cerca de seis meses, as mães só irão conseguir produzir os primeiros extratos de CBD apenas por volta de setembro deste ano.
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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de duas inflorescências de maconha e algumas folhas verdinhas de um cultivo, no primeiro plano, e ao fundo desfocado uma criança em pé e vestindo roupa de cor rosa. Créditos da foto: Renan Lopes.
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