Maconha no Uruguai: paulistano Thiago diz ter se mudado em busca de liberdade e segurança

No Uruguai, além de oferecer boas oportunidades de negócios, a maconha legal também proporciona o que não pode se encontrar em países com políticas proibicionistas como o Brasil: liberdade e segurança. Saiba mais com a reportagem do GaúchaZH.

O paulistano Thiago Rowlands, 36 anos, instalado desde janeiro de 2016 no bairro montevideano de Pocitos, resolveu fazer um teste logo que chegou. Dirigiu-se à Plaza Cagancha, um ponto movimentado da capital uruguaia, certificou-se de que havia policiais por perto e acendeu um baseado. Ninguém sequer o encarou.

– Como no Brasil é proibido, eu não sabia o quão profundo era ter essa liberdade de vir numa praça e fumar cannabis tranquilamente. No Brasil, agora posso dizer, eu não tinha liberdade.

Nesse passado brasileiro, que agora lhe parece absurdo, Thiago viveu situações de repressão policial por ser fumante de maconha. Ele lembra, por exemplo, quando usava a droga com amigos à frente de um condomínio de classe média. Alguém chamou a polícia.

– Eles chegaram de uma maneira bem ostensiva. Acredito que alguém ali engoliu a ponta, o beck, ou jogou num terreno que não dava acesso. E os agentes ficaram uma arara, pediram para a gente virar de costas. E daí, na revista, para ver se a gente tinha mais alguma coisa, toma um tapa, pedem para abrir a perna, aí você abre o máximo que você pode, daí eles te chutam mais, daí você cai. No que você cai, eles te batem de novo.

Além dessas situações, Thiago sentia-se mal por financiar o tráfico.

– Aqueles R$ 50 que deixava lá na boca é para o cara comprar arma, munição. Você fica numa contradição. Não planta porque tem vizinho, tem polícia, um monte de coisa amarrada, pode ir preso. Aí acaba indo à boca.

Além da maconha, o que pesou bastante na razão da mudança para Montevidéu foi a insegurança. Depois de vivenciarem algumas experiências de risco, Thiago, a mãe e a irmã, três anos mais nova e também usuária de cannabis, escaparam meio às pressas de São Paulo. No novo país, o brasileiro passou a ganhar a vida com as mesmas atividades que mantinha no Brasil: vendendo discos pela internet e tocando contrabaixo em bandas de punk e hardcore. No momento, tem duas: Autocritica e Disturbio.

O convívio com os uruguaios revelou-lhe uma cultura diferente no que diz respeito ao consumo de cannabis. No Brasil, sempre havia o receio de acender um baseado em alguma situação social. Nessas ocasiões, cochichando, Thiago pedia a alguém para sondar o dono da casa com toda a delicadeza. Em sua residência, nem lhe passava pela cabeça fumar diante da mãe. Com essa experiência na bagagem, teve um choque quando começou a frequentar a casa de uruguaios.

– Aqui é uma coisa social, está tudo bem acender um cigarro de maconha em um jantar, na casa de um amigo. Você pergunta, obviamente, se pode fumar. Mas não existe o constrangimento de perguntar. Já fumei muitas vezes na frente das mães dos meus amigos. Não tem aquela coisa típica do Brasil: “Vamos parar, que minha mãe vem aí”.

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#PraCegoVer: fotografia da vitrine de uma loja uruguaia com vários bongs e itens relacionados ao consumo de maconha. Créditos: Lauro Alves – Agência RBS.

“Agora, é como a fila do INSS”

Outra experiência marcante para Thiago Rowlands foi quando a erva começou a ser vendida nas drogarias, no segundo semestre do ano passado. Ele se cadastrou, mas durante semanas bateu em farmácias sem conseguir comprar, porque o sistema biométrico não funcionava, a digital dele não era reconhecida. Refez o cadastro, e mesmo assim não deu certo. Deixou passar um mês até que, um dia, pôs o dedo no sensor e funcionou.

– Essa primeira vez pareceu… Não digo um sonho, mas algo bem distante. No momento em que saí da farmácia com os pacotes de maconha na mão, me senti nervoso, porque… coisa de brasileiro… eu na rua com maconha… Então fui para casa fumar, muito excitado, porque sabia que era uma maconha de qualidade, se comparada com o que a gente pega na boca, sem terra, sem bicho, sem semente, sem galho. Você sabe o que está consumindo. Hoje em dia, aquela sensação de nervosismo da primeira vez não existe mais. Não tem aquela energia de que você está fazendo algo errado. Com o tempo, você se acostuma. Agora, é como a fila do INSS. Um negócio normal – relata.

O curioso é que, apesar de quase todos os amigos uruguaios de Thiago serem usuários de cannabis, nenhum está cadastrado para comprar em farmácia ou cultivar. Enquanto o brasileiro delicia-se com a sensação de estar dentro da lei, eles preferem obter a erva irregularmente. Têm horror à ideia de o Estado manter uma lista com seus nomes, dizendo que são drogados. Temem que isso possa ser usado contra eles, em caso de mudança política.

Há também brasileiros nessa situação, como o funcionário de um pub. Ele chegou há dois anos a Montevidéu, atraído pela lei, mas, no fim das contas, não se registrou. Mantém seu cultivo, que, diz, oferece mais qualidade do que a maconha vendida na farmácia.

– Conheço mais brasileiros cadastrados do que uruguaios, porque eles não confiam no governo. Não sou cadastrado porque só se pode cultivar seis plantas. Eu tenho 18 – conta.

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#PraCegoVer: fotografia de Thiago Rowlands sentado sobre a letra “M” do letreiro de concreto “Montevideo” localizado na Praia de Pocitos, no Uruguai. Créditos: Lauro Alves – Agência RBS.

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