Maconha light floresce em um negócio milionário na Itália
Na Itália, depois que uma lei aprovada no final de 2016 autorizou a produção e comércio do cânhamo, empresas especializadas passaram a comercializar flores de maconha com baixo teor de THC e um negócio milionário surgiu em torno da “cannabis light”.
Não é um cenário de legalização total (como aconteceu recentemente em vários estados norte-americanos), nem de despenalização (como acontece em Portugal). Na Itália, um negócio de milhões em torno da cannabis floresceu à boleia de um buraco na lei e, desde 2017, a planta encontra-se à venda em ervanárias, estando acessível a qualquer consumidor e não apenas para fins medicinais (o que já era permitido no país), segundo noticiou o Público.
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No ano passado, a aprovação de um diploma que legaliza e regulamenta o cultivo de cânhamo para fins industriais (para a utilização em cosméticos, produtos alimentares, vestuário, biocombustíveis ou materiais de construção) deixou num vazio legal a produção e venda da flor da cannabis. Não está expressamente autorizada, mas também não está proibida — desde que tenha uma concentração do composto psicotrópico THC inferior a 0,6%, valor a partir do qual a lei italiana considera que se trata de um estupefaciente.
Com concentrações de THC muito longe dos 15% a 25% detectados na maconha habitualmente consumida para fins recreativos, a chamada cannabis light não produz efeitos psicotrópicos, mas os consumidores indicam sensações de relaxamento. Já os níveis de canabidiol (ou CBD), um composto com propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, não estão sujeitos a qualquer regulamentação.
Legalmente, a flor da maconha light só pode ser vendida para “fins técnicos”. Não pode ser comercializada para ser fumada ou ingerida. Mas nada impede o consumidor de lhe destinar outro uso em casa.
À boleia dessa omissão, nasceram empresas como a Easyjoint, que fez quase meio milhão de euros nos primeiros 45 dias, de acordo com o jornal LaStampa. “Demo-nos conta que a lei abria um flanco para um projeto comercial, mas também de sensibilização. Não podemos ignorar que a parte mais rentável do nosso negócio são precisamente as flores”, explicou Luca Marola, fundador da Easyjoint e ativista pela legalização da maconha, ao ElPaís.
Esta empresa foi a primeira a entrar no negócio da revenda de um produto rotulado como “cannabis light”. No primeiro ano de atividade, e através de 500 pontos de venda, venderam 17 toneladas de flores, segundo informou ao New York Times. Mas não é a única empresa a disputar este mercado. Diversas ervanárias e lojas especializadas começaram a vender a chamada “cannabis light” sob marcas sugestivas como K8, Chill Haus, Cannabbismile ou Marley CBD. Estima-se que o setor de venda da flor, sementes e óleos de cannabis tenha gerado 40 milhões de euros desde 2007.
O cultivo de cânhamo para fins não recreativos tem uma longa tradição na Itália: em 1940, recorda o New York Times, o país era o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas da União Soviética. E é esta tradição que se quis recuperar em 2017.
No entanto, as autoridades reconhecem os efeitos imprevistos e indesejados da nova lei. A anterior ministra da Saúde, Beatrice Lorenzin, afirmou que a lei “deixa muito a desejar” ao não ter previsto a venda e consumo da flor. Em maio, o Ministério da Agricultura também questionava a segurança destes produtos e pedia regulamentação específica para a cannabis light. Mas até agora, nada mudou.
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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de plantas de maconha em período vegetativo cultivadas em vasos sob uma iluminação roxa, exibidas pela empresa Easyjoint na feira Canapa Mundi 2018, na Itália.
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