Maconha light floresce em um negócio milionário na Itália

Plantas de maconha em período vegetativo cultivadas em vasos sob uma iluminação roxa, exibidas pela empresa Easyjoint na feira Canapa Mundi 2018, na Itália.

Na Itália, depois que uma lei aprovada no final de 2016 autorizou a produção e comércio do cânhamo, empresas especializadas passaram a comercializar flores de maconha com baixo teor de THC e um negócio milionário surgiu em torno da “cannabis light”.

Não é um cenário de legalização total (como aconteceu recentemente em vários estados norte-americanos), nem de despenalização (como acontece em Portugal). Na Itália, um negócio de milhões em torno da cannabis floresceu à boleia de um buraco na lei e, desde 2017, a planta encontra-se à venda em ervanárias, estando acessível a qualquer consumidor e não apenas para fins medicinais (o que já era permitido no país), segundo noticiou o Público.

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No ano passado, a aprovação de um diploma que legaliza e regulamenta o cultivo de cânhamo para fins industriais (para a utilização em cosméticos, produtos alimentares, vestuário, biocombustíveis ou materiais de construção) deixou num vazio legal a produção e venda da flor da cannabis. Não está expressamente autorizada, mas também não está proibida — desde que tenha uma concentração do composto psicotrópico THC inferior a 0,6%, valor a partir do qual a lei italiana considera que se trata de um estupefaciente.

Com concentrações de THC muito longe dos 15% a 25% detectados na maconha habitualmente consumida para fins recreativos, a chamada cannabis light não produz efeitos psicotrópicos, mas os consumidores indicam sensações de relaxamento. Já os níveis de canabidiol (ou CBD), um composto com propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, não estão sujeitos a qualquer regulamentação.

Legalmente, a flor da maconha light só pode ser vendida para “fins técnicos”. Não pode ser comercializada para ser fumada ou ingerida. Mas nada impede o consumidor de lhe destinar outro uso em casa.

À boleia dessa omissão, nasceram empresas como a Easyjoint, que fez quase meio milhão de euros nos primeiros 45 dias, de acordo com o jornal LaStampa. “Demo-nos conta que a lei abria um flanco para um projeto comercial, mas também de sensibilização. Não podemos ignorar que a parte mais rentável do nosso negócio são precisamente as flores”, explicou Luca Marola, fundador da Easyjoint e ativista pela legalização da maconha, ao ElPaís.

Esta empresa foi a primeira a entrar no negócio da revenda de um produto rotulado como “cannabis light”. No primeiro ano de atividade, e através de 500 pontos de venda, venderam 17 toneladas de flores, segundo informou ao New York Times. Mas não é a única empresa a disputar este mercado. Diversas ervanárias e lojas especializadas começaram a vender a chamada “cannabis light” sob marcas sugestivas como K8, Chill Haus, Cannabbismile ou Marley CBD. Estima-se que o setor de venda da florsementes e óleos de cannabis tenha gerado 40 milhões de euros desde 2007.

O cultivo de cânhamo para fins não recreativos tem uma longa tradição na Itália: em 1940, recorda o New York Times, o país era o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas da União Soviética. E é esta tradição que se quis recuperar em 2017.

No entanto, as autoridades reconhecem os efeitos imprevistos e indesejados da nova lei. A anterior ministra da Saúde, Beatrice Lorenzin, afirmou que a lei “deixa muito a desejar” ao não ter previsto a venda e consumo da flor. Em maio, o Ministério da Agricultura também questionava a segurança destes produtos e pedia regulamentação específica para a cannabis light. Mas até agora, nada mudou.

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de plantas de maconha em período vegetativo cultivadas em vasos sob uma iluminação roxa, exibidas pela empresa Easyjoint na feira Canapa Mundi 2018, na Itália.

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