A MACONHA E O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

[pull_quote_center]Desde que fiz minha cabeça sobre as racistas razões de toda essa criminalização, passei a lutar com mais força e prazer pela legalização da maconha no Brasil.[/pull_quote_center]

Por 25 anos, fui da bateria do Império Serrano. No dia da consciência negra, lembro sempre do meu samba favorito: “MÃE BAIANA MÃE”. Obra-prima da dupla Aluízio Machado e Beto Sem Braço de 1983, um ano depois de terem sido campeões com o antológico “Bumbum Paticumbum Prugurundum”.

“Mãe negra, sou a tua descendência/ Sinto tua influência/No meu sangue e na cor”. O lindo trecho do samba enche de poesia nossa luta contra este atual biocapitalismo de impregnadas raízes monarquistas e escravocratas.

Toda cultura negra foi criminalizada no Brasil: o candomblé, o jongo, o samba, a capoeira e o hábito de fumar maconha, trazido pelos negros da diáspora dos degredos africanos. Os portugueses incentivavam a produção de cânhamo para fazer velas e cordas para as caravelas. Então, não foi a produção que foi perseguida, pois, se voltada para a navegação, no Brasil, era até incentivada, mas sim a cultura de fumar o cachimbo da paz. A raiz desse ódio está no bojo do racismo e do preconceito contra toda a cultura dos negros.

Além de ter criado a primeira lei que criminalizou a planta, em 1830, com três dias de cadeia para os escravos que consumissem o “Pito do Pango”, o Brasil, com discursos pseudocientíficos lombrosianos de seus psiquiatras, teve papel importantíssimo no proibicionismo. Dr. Pernambuco chegou a afirmar, na Liga das Nações, em 1915, que a maconha era uma vingança dos negros contra os brancos em razão da escravidão. O racismo criminalizou a maconha no Brasil e no mundo.

Num de seus discursos pseudocientíficos, Doutor Rodrigues Dória, psiquiatra, professor de Medicina Pública de Direito da Bahia, presidente da Sociedade de Medicina Legal, ex-presidente do Estado de Sergipe, despeja todo o seu preconceito: “Entre nós a planta é usada, como fumo ou em infusão, e entra na composição de certas beberragens, empregadas pelos “feiticeiros”, em geral pretos africanos ou velhos caboclos. Nos “candomblés” – festas religiosas dos africanos, ou dos pretos crioulos, deles descendentes, e que lhes herdaram os costumes e a fé – é empregada para produzir alucinações e excitar os movimentos nas danças selvagens dessas reuniões barulhentas. Em Pernanmbuco a herva é fumada nos “atimbós” – lugares onde se fazem os feitiços, e são frequentados pelos que vão aí procurar a sorte e a felicidade. Em Alagoas, nos sambas e batuques, que são danças aprendidas dos pretos africanos, usam a planta, e também entre os que “porfiam na colcheia”, o que entre o povo rústico consistem em diálogo rimado e cantado em que cada réplica, quase sempre em quadras, começa pela deixa ou pelas últimas palavras de contendor”

Desde que fiz minha cabeça sobre as racistas razões de toda essa criminalização, passei a lutar com mais força e prazer pela legalização da maconha no Brasil.

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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