Literatura Sativa: A Maconha é a saída

 

Sim, não uso drogas, no momento, apenas escrevo sobre isso de fugir da censura bem dentro de uma cela que tem dezesseis metros quadrados de loucuras.

Cerveja como são as coisas! Sou louco de nascença. Doido de pedra. Crack, fumei, na lata, em Porto Seguro ainda no século XX, por mais que tivesse sido avisado do mal que havia de ser logo causado, depois do terceiro uso.

Eu queria viajar,na droga que fosse a mais louca de todas. No final, eu não peguei a onda de viver sem livros. As drogas mais fortes perderam razão diante dos livros, menos a maconha. Eu era um leitor quase perdido! Se a maconha tornar-se, em breve, felizmente liberada, no país, e mesmo assim, eu nunca fumar craque na vida, a culpa é dos efeitos da erva proibida. Eu acho certeza nisso.

O crack danado é diabólico, a maconha tão divina…

A maconha é a saída! Hoje, eu escrevo dela em silêncio, que é pra não tomarem de mim o meu papel e vivo na ficção que é sem limite para o bem.

Outra coisa é que a apologia sobre cannabis sativa é considerado um crime no Brasil, repito isso. Mesmo assim, eu, Che Cannabis, sei da maconha e do seu uso medicinal e não podia ficar calado. Pesou na consciência. Defendo que você tem o direito de querer ou de não querer. Eis a lei: “A não ser que você não queira”. De acordo com as leis que foram feitas para me proteger, quando eu estiver em meu país, serei um filho da Democracia e da Liberdade de Expressão. Quem me disse? Bem, quem me disse tudo aqui pousou nas asas de um beija-flor.

A polícia me conspirou até o fim dos tempos, assobiando pra Deus entrar comigo na hora do adeus. Lá vem a polícia do Diabo, arrombando, tipo ladra, cuspindo fora a porta da minha casa moral…

Que coisa! Papel na mão, a corregedoria da Justiça Penal me espera arbitrária, desmiolando-me. Chegaram:

— Eu?

— Sim, você mesmo, seu Zé Cannabis. — Responderam os homens da Polícia Secreta do Diabo.

Um deles lançou-me na cara de pau a minha acusação esnobe:

— Você foi acusado de fumar maconha, durante o trabalho, no Castelo da Morte. Está detido agora na via-crucis do corpo sem Clarice Lispector, seu imbecil.

Leia também: Literatura Sativa: Che Cannabis e o Castelo da Morte

Segui culpado por fumar no presídio, depois de um ano, sofrendo o processo igual a um personagem de Franz Kafka no Brasil. Prova nenhuma existia, mais acusação que tudo e burocracia pesada. Prova é agora este livro.

Exonerado do serviço público e quase preso em nome disso de primeira. Hoje defendo uma erva milagrosa que nos faz fortes e remediados, vital na luta contra a dor geral, usada na acusação minha: guarda letrado, poeta e compositor. Entorpecente que acabou sendo o diamante negro deste livro.

Você não é mais um garotinho que pode se esconder no errado, diz-me a voz do Doutor de todos os lados. Mas, por outro lado, você pode assumir um discurso crítico e lançar um livro, responde meu anjo
envenenado. A gente pode ser mutilado pela Justiça, mas podemos marcar pra sempre o nosso álbum de família, completa meu ego.

Eu reincidi no erro e perdi meu emprego.

Se maconha for droga, eu deveria ter um tratamento, já que nunca comercializei com ninguém. E agora, Justiça? Não sei se Deus vai querer me ver pra semente agora ou só depois da chuva. A verdade é que pirei, ao ser exonerado do serviço público. Torneime inapto para o país dos brasileiros. Espero com a legalização recuperar meu prestígio de herói errante.

Hoje ficou uma coisa ruim no peito, hoje estou preso por errar de verdade mesmo. Empunhar arma de fogo e sair pra passear.

Hoje, mais ainda, sem direito a quase nada, quando, segundo a lei maior do meu país, eu deveria perder apenas o direito à liberdade, que dureza! Nada de internet… Nada de banho de sol… Nada de alimentação decente, humana… Nada de apelo.

Nada de computador para escrever. Nada versus nada. Nada vezes nada. Só uma vontade criar a ONG LEITORES THC.

E, sem a Deusa Gaia, nada feito!

Waldemar Valença Pereira é Professor, mestre profissional em letras e autor da obra literária  “Pé de Maconha – Che Cannabis nas andanças da ciência” que aborda a erva em prosa e poesia. Entre em contato com o autor através do email checannabis@hotmail.com ou através da redação pelo contato@www.smokebuddies.com.br.

Ilustração: Cacique Zé Coice, João Divino e Danieluiz

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