Literatura Sativa: Libertar-se da proibição

 

Precisei continuar a expor minhas ideias e lembro, como se fosse hoje, o que eu disse naquele dia aos dois:

— O povo brasileiro não tem ido para a escola, imagine universidade. Precisamos nos libertar da política contra as drogas. A coisa é absurda e não há como calar vendo o crime organizado e a polícia nacional machucarem tanto o povo brasileiro. Legalizar ou descriminalizar?

— Que coisa, Cannabis! Acho que legalizar é o ideal a ser buscado. — emendou Vini Curió.

— Acertou, Curió. Outra coisa são as pesquisas científicas que um dia hão de expôr na cara dos brasileiros o grande resultado: quando eu, paciente medicado, fumo maconha, eu sinto paz, eu vejo a paz, e sinto a fome e o sono, e chega dá vontade de rir. Além de medicinal, o uso pode ser recreativo (ou espiritual) em mim. Nem quero mais saber de dirigir, quero mesmo é andar a pé com meu pé (de maconha) por aí. Praias, florestas, quem sabe shoppings e lojas de livros. Livros e violão, quem sabe novelas e filmes dublados.

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Continuei:

— Além da indústria farmacêutica, Curió, existe um cruel capitalismo (da compra e da venda do objeto e do ser humano coisificado) que quer cada vez mais clientes consumistas noshopping center de mil descartáveis. Isso não combina, esse tal de consumismo desenfreado do supérfluo em excesso.

— Quero surfar na praia de Karl Marx. — Afirmou Curió, meio que mudando de assunto.

Marcow intercedeu:

— Concordo, Che Cannabis. Concordo, Curió. Marx era um cara que movimentou a cabeça do ocidente e do oriente. Você tem uma visão crítica sobre o assunto da maconha, Cannabis. É você o herói maconheiro que precisávamos tanto. Nem quer ser vereador, para não perder a viagem da visão crítica, que massa! A coisa é mais embaixo, né? — arguiu o Marcow.

— E não é? É, há de ser: com cerveja! A coisa se revela criticamente cética. Deixe isso pra outro dia bem depois. Explico: está doendo demais ser tatuado e a filosofia é teórica demais. Olhe aí, já são três horas e meia de arte viva quase na planta do meu corpo: três horas e meia para viver do meu pé tatuado de maconha.

Emendei quase na despedida uma frase forte:

— Aquelas doses de cachaça não fazem mais efeito anestésico e minha mente travou de ideias, Marcow.

Está chegando a hora de deixar o Bairro El Shadday e voltar pra nave-mãe. Depois de amanhã, haverá serviço a ser executado no Castelo da Morte. Eu, um reles guarda; na sociedade, um importante professor de Literatura, capaz de levar você a Engenharia, Direito, Jornalismo ou Medicina, etc, etc, etc.

Está chegando a hora de andar por aí com meu pé de maconha vivo, foi o que pensei naquele átomo de instante. Mas será que eu consigo? A dor é grande…

Eu preciso ir-me embora pra Pasárgada, sabia?

Veja só que coisa, meu bem!

Waldemar Valença Pereira é Professor, mestre profissional em letras e autor da obra literária  “Pé de Maconha – Che Cannabis nas andanças da ciência” que aborda a erva em prosa e poesia. Entre em contato com o autor através do email checannabis@hotmail.com ou através da redação pelo contato@smokebuddies.com.br.

Ilustração: Cacique Zé Coice, João Divino e Danieluiz

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