Inútil guerra às drogas

A proibição das drogas, assim como o combate ao tráfico através da militarização da segurança pública, nunca obteve sucesso em nenhum lugar do mundo onde foi tentada, logo também não será a solução para a paz no Rio de Janeiro e no país. Saiba mais sobre o assunto no artigo de opinião do sociólogo e ativista Renato Cinco para O Globo.

A Marcha da Maconha vai ocupar a orla de Ipanema, no dia 5 de maio, para lembrar que a intervenção federal na segurança pública não é a solução para a paz no Rio de Janeiro. A simples mudança no comando das tropas, sem a superação da política de guerra às drogas, vai frustrar o desejo de todos por dias mais tranquilos.

Não se trata aqui de apostar na ineficiência das forças de segurança, mas de lembrar que a proibição das drogas fracassou em todos os locais onde foi tentada. A meta de “um mundo livre das drogas” firmada na ONU, na década de 1960, nunca foi concretizada.

As nações que apostam na erradicação das drogas ilícitas a qualquer custo pagaram com muito sangue. O México, país com realidade econômica e social semelhante ao Brasil, é exemplo de aposta na militarização que deu errado e não deveria servir de modelo. Desde 2007, quando o ex-presidente mexicano Felipe Calderón deu início à utilização de agentes do Exército para o combate ao narcotráfico, o país é dono de uma desastrosa estatística de quase 200 mil mortos e 23 mil desaparecidos apenas na guerra às drogas. Mesmo com tamanha violência e repressão, os cartéis do narcotráfico mexicano seguem operando normalmente.

A insistência na proibição das drogas não pode mais ser encarada como uma simples aposta equivocada de governantes. Na ponta da aplicação desta política estão policiais, traficantes e inocentes que seguem morrendo, aumentando as estatísticas de letalidade de uma guerra insana. Não é difícil perceber que o atual modelo não funciona e a manutenção do mesmo é, no mínimo, uma decisão perversa.

Há alguns anos, o povo do Rio acompanha a apresentação de traficantes com o título de “homens mais perigosos da cidade”. Foi assim com Escadinha, Marcinho VP, Elias Maluco, Nem, Playboy e muitos outros. Presos ou mortos, estes são rapidamente substituídos na hierarquia do narcotráfico. Passados alguns dias, descobre-se um novo “bandido mais perigoso”. Enquanto isso, as operações continuam, e histórias trágicas vão se repetindo em um ritmo inaceitável.

Na contramão de experiências de legalização da maconha que surgem em todo o planeta, o Brasil caminha para aprofundar o proibicionismo com o PLC 37/2013, de autoria do deputado Osmar Terra. Já aprovado pela Câmara dos Deputados e em tramitação no Senado, o projeto fortalece a indústria do manicômio, agora disfarçada nas Comunidades Terapêuticas, que realizam internações compulsórias de usuários de drogas. Também preocupa a Resolução 01/2018 do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), que pode significar o fim da política de redução de danos para pessoas que fazem uso problemático de drogas.

Renato Cinco é vereador (PSOL) no Rio.

Leia também: O ofício de enxugar gelo

#praCegoVer: Fotografia de um manifestante desfazendo um pedaço de maconha prensada. Destaque na camiseta que tem impressa a hashtag “#SoltaOPreso!”. Foto Dave Coutinho / Marcha da Maconha no Rio em 2017

Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!