Incêndios devastam o norte da Califórnia e causam prejuízo aos produtores de maconha

O norte da Califórnia está passando por um dos piores incêndios da história no estado. Além de toda a tristeza que assola o estado diante de dezenas de mortes, o prejuízo material também é incalculável, talvez centenas de milhões de dólares tenham sido perdidos nas fazendas produtoras de maconha que não podem nem ao menos contar com seguros ou empréstimos devido à cannabis ainda ser proibida perante a legislação federal. Saiba mais no texto abaixo:

Nos últimos dias, o norte da Califórnia foi devastado por 22 incêndios que queimaram cerca de 200 mil hectares, destruíram mais de 5.700 edifícios e mataram pelo menos 38 pessoas. À medida que as chamas continuam destruindo a paisagem seca, elas também estão causando danos incalculáveis ​​às fazendas de cannabis, no pior momento possível – no coração da temporada das colheitas de outono, apenas alguns meses antes da estréia das vendas de maconha para fins recreativos.

As chamas devoraram fazendas inteiras de cannabis nos condados de Sonoma e de Mendocino, o centro da indústria canábica da Califórnia. Das regiões que compõem o Triângulo das Esmeraldas e suas áreas ao redor, que antes eram só verde, agora restou somente plantas escaldantes ou impregnadas com cinzas e fumaças tóxicas.

“Eu acho que podemos honestamente estar olhando para centenas de milhões de dólares em perdas em termos de danos às culturas e propriedades”, disse Hezekiah  Allen, diretor executivo da California Growers Association.

Para Allen, talvez apenas algumas dúzias de fazendas tenham sido destruídas, porém esse número provavelmente aumentará muito quando as comunicações forem restabelecidas e os evacuados receberem autorização para voltar à área e avaliarem os danos.

Segundo artigo publicado no portal Leafly, as autoridades da indústria da cannabis estimam que existem entre 3.000 e 7.000 fazendas de maconha no condado de Sonoma,  Nas proximidades do condado de Mendocino, onde dois incêndios florestais queimaram mais de 35 mil hectares, fica o lar de cerca de 10.000 fazendas.

Em chamas

Erich Pearson, diretor executivo da San Francisco Patient Resource Center, acordou assustado na madrugada de segunda-feira, com a visão infernal de uma tempestade de fogo sobre sua extensa fazenda de cannabis em Wine Country, em São Francisco.

“O céu inteiro brilhava”, relatou Pearson em uma entrevista à Leafly. A única opção era sair vivo e rapidamente.

“Não havia nada que eu pudesse fazer pela fazenda”.

A fazenda que fica na região de Glen Ellen, no condado de Sonoma, produz cannabis para quatro dispensários de maconha medicinal da rede de Pearson, a SPARC, dois em São Francisco e os outros em Santa Rosa e Sebastopol.

Uma pick-up destruída entre as muitas perdas sofridas pelos produtores de cannabis de Sonoma. Foto: Erich Pearson, SPARC

Pearson retornou a sua fazenda depois do incêndio. Todas as estruturas de madeira da propriedade, incluindo quase 6.000 metros quadrados de salas de processamento, algumas com maconha em processo de secagem, foram destruídas.

Cabras que sobreviveram ao incêndio vagavam em frente às instalações de metal destruídas pelas chamas. Foto: Erich Pearson, SPARC

Algumas estufas, que estavam cercadas com amortecedores de cascalho, ficaram protegidas contra fogo e resistiram, mas grande parte do cultivo ao ar livre da SPARC acabou sendo destruída pelas chamas.

“Ainda estamos avaliando o que perdemos”, disse Pearson à Leafly. “Todo mundo está reagindo de maneira diferente à situação. Estou em um modo de luta. Estou perguntando: ‘O que podemos fazer como comunidade? O que podemos fazer para ajudar nossos vizinhos?'”

“No condado de Sonoma, este será um enorme impacto na economia.”

O que sobrou após o incêndio na fazenda que fornece maconha para a rede SPARC. Foto: Erich Pearson

Sem salvação, muitos negócios podem desaparecer

Outro grande desafio é que os produtores de maconha, ao contrários de outros produtores agrícolas, geralmente não tem acesso ao seguro que cobre a colheita. Além disso, eles também têm pouco ou nenhum acesso a empréstimos, porque os bancos continuam evitando empresas que vendem um produto que ainda é ilegal perante a legislação federal. Se a região receber ajuda do Governo Federal, os produtores de maconha também não terão acesso. Portanto, para eles o custo de reconstrução ficará por conta própria ou através de doações.

Cenário desolador. Foto: Joe Jr. / NBC Bay Area

Vários fundos foram criados para receber doações para os agricultores de maconha afetados pelo incêndio, como o MendoFire: CalGrowers Wildfire Relief Fund e o Farmers Helping Farmes, no GoFundMe.

Até mesmo os cultivos que não foram engolidos pelos incêndios estão em risco. A fumaça causada pelos incêndios pode causar danos tanto para as outras plantações de maconha como para as culturas vinícolas da região. Devido às toxinas presentes na fumaça, as culturas que tiverem contato com a mesma correm o risco de sofrerem alteração no sabor de seu produto, o que reduziria significativamente o seu preço ou até mesmo o impossibilitaria de ser comercializado, ou seja, perda.

Cultivo de maconha mostra o impacto dos incêndios em Glen Ellen. Foto: Joe Jr. / NBC Bay Area

 

Flores de cannabis acinzentadas de uma colheita interrompida pela fúria dos incêndios. Foto: Joe Jr. / NBC Bay Area

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Green Rush

A Califórnia legalizou a maconha para uso médico em 1996 e para uso recreativo em novembro de 2016. As vendas do setor chegarão a 5,8 bilhões de dólares em 2021, segundo projeção da Arcview Market Research, unidade da Arcview Group, empresa de investimento e pesquisa de mercado com foco na cannabis, que estimou um montante superior aos 1,8 bilhões de dólares em 2016.

Dada a vasta produção de cannabis na Califórnia, não se espera que os incêndios impactem significativamente os dispensários de maconha medicinal e nem as vendas para o uso recreativo que se iniciam no começo de 2018.

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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