Festival Ganja Talks: o Brasil já vive a legalização

No último sábado de abril (30) aconteceu no bairro da Vila Madalena (SP) o Ganja Talks Fest. Em uma agradável tarde de outono, a equipe do Smoke Buddies esteve presente no evento e conferiu de perto o que rolou – e é claro acompanhou também todo o smoking, que particularmente, estava muy bueno!

Criado pelos donos do aplicativo Who Is Happy, João Paulo Costa e Henrique Torelli, e organizado pelo apresentador Cazé Peçanha, o evento contou com mais de 2 mil pessoas e reuniu palestras, exposição de produtos, bate papos e filmes que de acordo com João Paulo, tiveram o objetivo de desmistificar vários paradigmas relacionados à cannabis.

“Acredito que quanto mais eventos existirem no Brasil para quebramos esses preconceitos contra a cannabis, mais rápida será o nosso processo de legalização.” – explicou João Paulo.

João Paulo, fundador do app Who Is Happy, durante palestra - Foto: Lucas Tavares

João Paulo, fundador do app Who Is Happy, durante palestra – Foto: Lucas Tavares/Smoke Buddies.

Fazendo dinheiro legal com maconha

Um dos assuntos debatidos no Ganja Talks que nos chamou mais atenção foi o do contraditório e legitimado mercado nacional ao redor da cultura canábica. Por mais que o Brasil ainda siga uma política de drogas proibicionista, existe um nicho com grande potencial que está atrelado diretamente com o consumo de maconha e que tem o público predominantemente de usuários de cannabis. Este mercado é composto por diversos segmentos de mercado – alguns deles, como: head shops que são lojas que vendem produtos para o consumo da cannabis. Empresas que desenvolvem e/ou produzem papel para enrolar cigarros de maconha, mais conhecidas como sedas e empresas que produzem os famosos bongs, que são como um narguilé, porém mais modernos. Todos esses produtos e estabelecimentos existem legalmente no Brasil.

Alexandre Perroud contando sua história como pioneiro das head shops no Brasil - Foto: Dave Coutinho/Smoke Buddies.

Alexandre Perroud contando sua história como pioneiro das head shops no Brasil – Foto: Dave Coutinho/SB.

O fundador da primeira head shop do Brasil no ano de 1994, Alexandre Perroud, da empresa Ultra420, palestrou no espaço Hilo Co-working contando sua história e falando sobre o mercado nacional de head shops.

Por ser o pioneiro neste ramo, Alexandre contou ao Smoke Buddies, que a primeira estratégia de mercado foi disponibilizar variedades de produtos e melhores alternativas para o consumo da maconha. Porém, a novidade foi tanta que muitas pessoas entravam na loja e confundiam bongs com vasos ou incensários. Até o ano de 2007, Alexandre não tinha concorrente algum. Os empresários que observavam o desenvolvimento da head shop tinham receio de entrar no ramo para evitar investigações policiais e apreensão de produtos, como aconteceu algumas vezes com a Ultra420.

“Nosso DNA foi sempre forjado na ilegalidade, no underground. A Ultra nasceu do underground total” – desabafou Alexandre.

Tirando a fama de mau

Depois de passar por diversas situações constrangedoras por trabalhar diretamente num mercado relacionado a cannabis, Alexandre trocou a cara e a vibe de sua loja. Atualmente a Ultra420 é uma loja com aspecto limpo e quem passa consegue enxergar bem o que acontece lá dentro.

“Pra tirar ela totalmente da ilegalidade coloquei a luz interna 30% mais claro do que de fora. A loja é toda branca por dentro com filetes dos móveis laranja, o piso verde e a fachada laranjona mesmo.” – contou Alexandre.

Interior da Ultra420 na Rua Augusta - Foto: Ultra420.com.br

Interior da Ultra420 na Rua Augusta em São Paulo – Foto: Ultra420.com.br

Mesmo com uma maior aceitação nacional por parte dos brasileiros e empresários relacionados com distribuição e tabacaria, as head shops em funcionamento hoje em dia no país ainda enfrentam alguns empecilhos. Alexandre acredita que não há no Brasil um incentivo aos empreendedores e que encontra barreiras na aquisição de produtos, como por exemplo, os vaporizadores, que ainda entram no país por contrabando além de serem erroneamente considerados da mesma família que os cigarros eletrônicos – produto ainda não reconhecido pela ANVISA.

Vislumbrando um mercado sólido das head shops, Alexandre aposta numa união de empresários do ramo e na concorrência saudável de produtos nacionais.

“O próximo passo seria os principais players do mercado se unirem através de uma associação ou uma câmara do comércio e nessa afiliação termos acesso à direitos pra fomentar o comércio.” – disse Alexandre.

Ativismo como modelo de negócio

Do lado de fora do Ganja Talks, mais precisamente no Espaço Cult, com direito a DJ e aquela marofa agradabilíssima, havia diversos stands com exposição de produtos. Marcas como Squa da fum, fabricante de bongs de vidro e parafernália para fumar, a Grow Plant, loja que vende produtos para o cultivo da cannabis e a head shop Leprechaun estavam expondo seus produtos.

 

O Smoke Buddies conversou com Pedro Cordeiro, dono da Leprechaun. Fundada por ele e seu irmão em 2011, o nome faz alusão a um duende do folclore irlandês com fama de malandro e “bicho do mato”.

“Todo mundo achou que a gente era louco. Vocês são maconheiros? Beleza, mas vocês vão largar o emprego pra começar uma coisa dessas?” – contou Pedro.

Com o lema “entender para atender”, os irmãos Leprechaun começaram seu negócio primeiramente com o objetivo de ser um ponto de informação sobre a planta da maconha além de vender produtos relacionados a erva. Atualmente, a head shop também conta com um grow shop no andar de cima da loja e para Pedro o segredo deste cannabusiness é fidelizar seus clientes através de conhecimento total nos produtos e principalmente saber conversar sobre maconha com eles.

“O ativismo faz com que eu cative meu cliente” – disse Pedro.

Os irmãos Leprechaun, Pedro e Gustavo - Foto: Pedro Cordeiro.

Os irmãos Leprechaun, Pedro e Gustavo – Foto: Pedro Cordeiro.

O cannabusiness tupiniquim

Surpreendentemente, a atual crise econômica do Brasil movimentou positivamente o mercado de produtos para o consumo da maconha. De acordo com Pedro, com o aumento do dólar e conseqüentemente o aumento do preço de produtos importados, seus clientes passaram a comprar produtos nacionais ajudando a fomentar e consolidar o mercado brasileiro. Porém, alerta que empresas estrangeiras estão de olho na legalização por aqui e quando isso acontecer “irão vir com os dois pés no peito”, disse Pedro.

Desde a abertura das portas de Leprechaun, a maior mudança que Pedro notou no mercado das head shops foi a variedade de produtos. Os bongs, peça indispensável para a identidade de uma head shop, é um dos produtos que mais vendem na Leprechaun e que Pedro faz questão de estudar a fundo a evolução do utensílio, visto a crescente procura de bongs para consumo de uma específica extração de cannabis, conhecida como BHO.

Na pontinha

A sensação que o Ganja Talks proporcionou aos participantes se resume a dizer que o Brasil já vive a legalização da maconha. Empresas, empreendedores e start-ups canábicas já ganham dinheiro legal com a cannabis. Pensando no futuro da empresa, Alexandre Perroud da Ultra420, está apostando nas franquias de sua loja. Já os irmãos Leprechaun, no momento em que regulamentarmos a cannabis, sonham em poder criar uma cooperativa de maconha e até lançar uma marca própria de cannabis. Até quando vamos esperar Brasil?

Confira fotos exclusivas do Ganja Talks abaixo:

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Sobre Leo Sativa

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