FUZIL E MACONHA

No Brasil, nossa arcaica lei de drogas assassina e encarcera jovens negros e pobres todos os dias, superlotando as cadeias do país. E quem ganha com isso é os EUA, onde o mercado da maconha legal cresce a cada dia mais, concomitante com o bilionário comércio de armas e munições que, ironicamente, sustenta o tráfico armado de maconha em nosso país. Entenda mais sobre o assunto na coluna semanal do advogado e ativista André Barros.

Enquanto mais da metade dos estados dos Estados Unidos da América do Norte legalizou a maconha para fins medicinais e recreativos, através de leis estaduais, a lei federal americana criminaliza a erva a nível nacional para que sua diplomacia continue a impedir a legalização da maconha no mundo, por meio de leis internacionais.

Assim, o maior país capitalista do planeta avança neste mercado, enquanto o resto do mundo vai ficando para trás, vendo crescer o bolo verde do império americano. Não bastasse isso, ainda vai alimentando a venda armada da maconha no Brasil. No último dia 1º de junho de 2017, a polícia civil do Rio de Janeiro fez a maior apreensão de armas dos últimos dez anos.

No terminal de cargas do aeroporto internacional, 60 fuzis, como AK 47, G3 e AR10, foram apreendidos. Essas armas de guerra haviam sido importadas de Miami por empresários brasileiros e chegaram escondidas em contêineres. A carga de armas, avaliada em 5 milhões de reais, seria distribuída nas favelas do Rio de Janeiro.

Portanto, tratamos de dupla hipocrisia, pois, enquanto a maconha é criminalizada em nosso país por meio de armas que vêm dos Estados Unidos, o mesmo país legaliza a planta em seu território e sustenta o tráfico armado de maconha em nosso Brasil. Assim, vamos ficando para trás, enquanto o Império Americano vai se aperfeiçoando no mercado da maconha.

A erva da paz vai alimentando nossa suposta guerra interna. De cada 100 brasileiros mortos a bala, 71 são negros e pobres. Como essas armas norte-americanas vão parar nas mãos de adolescentes e jovens negros e pobres? Não sabemos, pois, se a maior apreensão é de apenas 60 fuzis, enquanto milhares circulam em nossa cidade, podemos concluir que o combate ao tráfico armado de armas e munições não existe.

Sabemos que a maconha sustenta essa grande farsa. A ilegalidade torna o tráfico da planta mais que lucrativo, beneficiando assim quem monopoliza esse mercado à força. A proibição da plantação em nosso país alimenta o bilionário mercado da compra e venda de armas e munições. Quando plantadores de maconha para uso próprio são condenados a 10 anos de prisão e plantações de milhares de pés são destruídas em operações internas, isto só beneficia o mercado norte-americano, ainda mais quando milhares de plantas são incineradas por nossa polícia federal.

Quem defende a ilegalidade da maconha no fundo sustenta esse mercado de compra e venda de armas e munições!

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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