FIFA E A COPA DAS MANIFESTAÇÕES

Tiro, porrada e bomba: PM alagoana reprime violentamente Marcha da Maconha - Smoke Buddies

As recentes notícias sobre a corrupção na FIFA, reforçam o sentimento que a multidão de jovens brasileiros tinham razão ao transformar a Copa das Confederações na Copa das Manifestações. O artigo escrito pelo advogado e Secretário-Geral da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, o Dr. André Barros, para o Smoke Buddies

Até junho de 2013, as únicas manifestações políticas que haviam acontecido naquele ano no Brasil eram as Marchas da Maconha. Parecia que só os maconheiros e simpatizantes da causa da erva da paz não estavam chapados nesse imenso país.

A mídia comercial, ao mesmo tempo em que levantava suspeitas sobre os valores superfaturados dos estádios para a Copa do Mundo, duvidava do término das obras, alimentando os aditivos financeiros com mais verbas sem licitação para as conclusões das arenas. O início da Copa das Confederações se avizinhava a junho de 2013 e muito se duvidava dos palcos prontos para o torneio internacional. O Secretário-Geral da FIFA, Jérome Valcke, já tinha grande destaque na mídia comercial brasileira e, de tanta moral em nossos meios de comunicação, chegou a declarar que o Brasil precisava tomar um pontapé na bunda, pois os preparativos para a copa estavam críticos.

Toda essa corrupção anunciada dos estádios da copa foi um dos pontos determinantes para acordar o gigante povo brasileiro. Não é à toa que as manifestações explodiram em junho de 2013, mês da copa das confederações. Várias delas aconteceram nos dias dos jogos, em Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte e na final no Rio de Janeiro.

Os governos estaduais, com apoio da Força Nacional do governo federal enviada pelo Ministro da Justiça, mobilizaram imenso aparato policial para reprimir as manifestações em junho de 2013 e as do mesmo mês nos jogos do Brasil. Dez dias depois da maior manifestação daquele mês, com mais de um milhão de pessoas na avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro, no dia 30 de junho de 2013, aconteceu a final da Copa das Confederações entre Brasil e Espanha. Ninguém me contou, eu estava lá, com mais de 30 advogados e advogadas para defender o exercício do direito constitucional de manifestação. Tudo estava tranquilo até começar a partida final. Assim que o árbitro apitou o início do jogo, a polícia atacou os manifestantes com uma violência sem tamanho, obviamente por saber que a televisão só transmitiria a partida de futebol dentro do estádio, e absolutamente nada que acontecia fora das quatro linhas.

E agora, que o presidente da FIFA renunciou ao cargo, dias depois de ser eleito, em razão dos escândalos de corrupção, que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol está preso pela mesma questão e que o boquirroto Secretário-Geral da FIFA está em maus lençóis? Quem vai pagar as porradas e prisões sofridas pelas brasileiras e brasileiros que foram às ruas protestar contra os desmandos do futebol?

Agora não há dúvida que os manifestantes tinham razão e defendiam o Erário. Ao contrário dos governos estaduais e federal, que não só jogavam bilhões pelo ralo, como gastavam outros bilhões em armas chamadas “não letais” e nos aparatos policiais. Sem contar as manobras para aprovar a lei geral da copa, a lei anti-terrorista das organizações criminosas e as leis contra “vândalos” e mascarados.

Depois desse 2013 maravilhoso, infelizmente caímos no discurso sem rumo dos votos nulo e branco e da abstenção, que ajudou a construir um Congresso Nacional de maioria fascista, que pretende reduzir a maioridade penal e aprovar o picareta financiamento privado de campanhas eleitorais, fonte dos cartéis de assaltantes das combinadas licitações públicas, verdadeiras moedas de troca dos financiamentos de campanhas eleitorais.

Ainda há tempo e a resposta contra esses partidos da ordem pode ser dada nas eleições municipais de 2016 com o voto consciente. Mas o mínimo que pode acontecer agora é a absolvição e a liberdade dos presos políticos e das “foragidas”, porque lutaram por uma causa justa, que todo o mundo agora conhece com os escândalos da FIFA. Fica a lição: a multidão de jovens brasileiras e brasileiros tinha razão ao transformar a Copa das Confederações na Copa das Manifestações. Por fim, deixem o Jobson jogar futebol, pois é a FIFA que está dopada.

 

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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