Ex-comandante das UPPs do Rio defende legalização da maconha

Do total de 120 toneladas de drogas, 91% das apreensões entre 2010 e 2016 foram de maconha. Para o coronel da Polícia Militar Robson Rodrigues, regulamentar a erva “desoneraria e muito as polícias Civil e Militar para que elas pudessem focar em outros crimes, como homicídio e armas”. As informações são da Agência Brasil.

Em seis semanas de operação no Rio de Janeiro – sendo duas de preparação e quatro de ações –, o Plano Nacional de Segurança levou à queda de 70% no roubo de cargas, na comparação com a média desse ano. Também fazem parte dos resultados da operação a prisão de 2.706 pessoas (a maioria foragidos da Justiça) e a apreensão de 174 armas de fogo, 66 toneladas de maconha e 1,5 tonelada de cocaína, além da recuperação de 490 veículos.

Os dados foram divulgados pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, que participou nesta quarta-feira (30) do seminário Reage, Rio! O evento, promovido pelos jornais O Globo e Extra, debatendo nos dias 30 e 31 de agosto, a segurança, mobilidade urbana, recuperação econômica, ética, turismo e políticas públicas em saúde e educação.

Em evento o Ministro destacou os “ótimos” resultados, levando em conta que a operação vai atuar por 18 meses e os “números robustos” são relativos apenas a quatro semanas de ação. Ministro Jardim defendeu também que seja criado um fundo nacional para a área de segurança pública.

Rio de Janeiro – Abertura do seminário Reage, Rio!, envolve empresários, especialistas e representantes da sociedade civil e da esfera pública para apresentar e debater, com o tema Segurança Pública (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Consequências da Política de Drogas

Na mesma mesa de debate, o coronel da Polícia Militar Robson Rodrigues, ex-comandante das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), disse que os índices de criminalidade voltaram a crescer desde 2015, após a queda decorrente de políticas implantadas como as UPPs e o Sistema de Metas (SIM). Mas, segundo ele, após a euforia dos bons resultados, os ganhos não foram incorporados de forma estrutural nas ações.

“O SIM era baseado em salários diretos, então em momentos de crise, onde não se tem como pagar isso, perde a motivação do policial. Nas UPPs, houve uma expansão além das possibilidades, faltou reforma policial e tinha baixa capacidade investigativa, além da debilidade do sistema de justiça criminal e corrupção e violência policial”.

O coronel falou também da seletividade do encarceramento, na qual a “cilada da guerra das drogas” levou para o sistema prisional 25% dos homens presos e 63% das mulheres. “Uma pesquisa do ISP [Instituto de Segurança Pública] sobre drogas ilícitas mostra que maconha, crack e cocaína são as drogas mais aprendidas e houve aumento da apreensão. Até 2006, a maior parte era apreendida com usuário, mas passou a ser enquadrado como tráfico depois da nova Lei de Drogas. A legislação é ambígua e deixa para interpretação do policial. Do total de 120 toneladas de drogas, 91% das apreensões entre 2010 e 2016 foram de maconha. Na motivação da letalidade, 21% está relacionado ao tráfico de droga”.

Regulamentação da Maconha. Perguntado sobre legalização das drogas, Rodrigues defendeu a regulamentação da maconha, porque “desoneraria e muito as polícias Civil e Militar para que elas pudessem focar em outros crimes que temos que priorizar, como homicídios e armas”.

“Nós estamos nessa guerra, matando e morrendo por quantidades ínfimas de maconha. Isso gera muitos debates acalorados, mas por questões práticas e pelas evidências científicas, pelo esgotamento das polícias – que envolvem mais de 80% das suas energias nesse tipo de criminalidade –, pelo menos nós temos que pensar, de uma forma racional, para achar um denominador comum”.

A pesquisadora do Instituto Igarapé Michele dos Ramos também defendeu a discussão sobre a política de drogas e afirmou que a “guerra as drogas” atinge principalmente a juventude negra do país. Ela também lembrou que o Brasil é campeão em número absoluto de homicídio no mundo, com 59.080 casos em 2015, segundo mapa da violência, e que menos de 10% são esclarecidos e levam a uma condenação.

“Também somos o quarto país em encarceramento, com 656 mil presos, e 40% aguardam julgamento. Temos uma alta taxa de letalidade policial e a estimativa do custo da violência chega a 5,9% do PIB. Na última década, tivemos a piora de todos os indicadores de violência. Os roubos vêm aumentando desde 2012 e a violência letal diminuiu de 2012 para 2015, mas voltou a subir de lá pra cá.”

Michele concluiu que a “pós-verdade é a narrativa do medo não são boas conselheiras” e defendeu a repressão qualificada e a modernização das políticas de segurança. “É preciso uma revisão da política de drogas e regulação responsável das armas e munições. Do total, 72% dos homicídios no país são cometidos com arma de fogo, e chega a quase 80% no Rio de Janeiro”.

O “Reage, Rio!” é uma realização dos jornais EXTRA e ‘O Globo’, com oferecimento do Sistema Fecomércio-RJ, por meio do Sesc-RJ, patrocínio da Souza Cruz, da Oi, da Alerj e do Sebrae, e apoio do shopping RioSul.

Fotografia de capa: Tânia Rêgo / Agência Brasil

mm

Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!