ESCRAVOS DO TRÁFICO DE MACONHA

Quando pensamos em um mercado ilegal, é difícil projetar o montante que circula com a venda de seus produtos. A missão é ainda mais árdua quando pensamos no tráfico de drogas. Mas uma coisa é certa: esse mercado é milionário! E apesar de gerar muito lucro, a linha de frente desse comércio não ganha quase nada com isso. É exatamente desses “escravos do tráfico” que o advogado e ativista André Barros fala em sua coluna de hoje para a Smoke Buddies.

Algo que muito me intriga é saber o tamanho do mercado da maconha. Quantas toneladas são distribuídas, qual é o lucro e o cartel? Trabalhei em vários processos de práticas infrativas à concorrência, onde podemos saber, por se tratarem de produtos legais, por exemplo, a cerveja, quantos concorrentes disputam o mercado em determinado território.

Para conhecer o mercado ilegal da maconha temos de ir pescando as informações. Ultimamente, a polícia fez apreensões de toneladas em favelas do Rio de Janeiro. Sabemos que a erva também é vendida pela classe média em mercado sem armas. Mas vamos centrar nossa pesquisa no tráfico armado em favelas cariocas.

Recentemente, a polícia apreendeu uma tonelada ou mais de maconha em determinadas favelas. Se depreende que em apenas uma favela circula uma tonelada de maconha. Como esta quantidade não pode ficar armazenada por muito tempo, ela deve ser vendida em um mês. Levando-se em consideração que um grama de maconha deve custar três reais e uma tonelada equivale a um milhão de gramas, o lucro da venda de uma tonelada é de R$ 3 milhões por mês.

Essa valiosa carga, que circula em dinheiro por ser ilegal, é defendida por pessoas armadas. Esses trabalhadores, marginalizados pela ilegalidade, são chamados de traficantes. Esse mercado varejista é realizado por olheiros, vendedores, seguranças e gerentes, recebendo de R$ 50 a R$ 200 por horas de trabalho arriscado. Esses trabalhadores do tráfico são em quase sua totalidade jovens negros e moradores das favelas. Sofrem todos os tipos de discriminação social, como a falta de saneamento básico, de acesso à escola e à própria cidade e são altamente discriminados quando procuram emprego. Dentro dessa terrível realidade social, são as maiores vítimas do mercado ilegal armado.

Diante de tanto racismo e desemprego, milhares de negros, moradores das favelas, são atraídos pela coragem da juventude e empurrados pelo comércio varejista ilegal que bate à sua porta. Ao trabalharem para esse mercado — distribuído em toneladas, com bilhões lavados em bancos e milhões em imóveis, carros de luxo, joias, armas, munições e corrupção —, eles são, na realidade, escravos do tráfico, mas jamais traficantes!

Revisão Marta Bonimond

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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