Esclerose Lateral Amiotrófica e o potencial terapêutico da Cannabis

Fotografia em ângulo superior de uma planta de maconha sendo segurada pelas mãos de uma pessoa que está acima da câmera. Esclerose.

Uma das mais temidas doenças, a esclerose lateral amiotrófica (ELA) causa a degeneração do sistema nervoso de forma progressiva e irreversível. A ciência ainda desconhece sua cura, mas estudos revelam que a cannabis possui propriedades medicinais que podem melhorar substancialmente a qualidade de vida dos pacientes com ELA. Saiba mais com as informações da Greencamp, e tradução da Smoke Buddies.

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma rara doença neuronal que atinge os neurônios motores do corpo, responsáveis ​​pelo movimento voluntário dos músculos.

Devido à progressão muito rápida na maioria dos pacientes, e como a ciência ainda está em busca de uma cura definitiva, entender como a cannabis pode ajudar no alívio dos sintomas é incrivelmente importante para quem sofre de ELA.

As evidências disponíveis sugerem que, além da diminuição dos sintomas, a cannabis também é capaz de retardar a taxa global de progressão dessa condição horrível.

Antes de entrarmos nos estudos científicos disponíveis, tanto em humanos quanto em animais, vamos abordar o que é ELA para aqueles que não estão familiarizados com ela.

 

O que exatamente é a Esclerose Lateral Amiotrófica?

A esclerose lateral amiotrófica (geralmente abreviada como ELA, e também conhecida como doença do neurônio motor no Reino Unido, e doença de Lou Gehrig nos EUA) é uma condição rara que causa a deterioração prematura dos neurônios que estão no controle de nosso movimento muscular voluntário.

A ELA diminui rapidamente a capacidade do paciente de controlar as fibras do tecido muscular, resultando em dificuldades com praticamente todas as ações controladas pelos músculos, como andar, falar, engolir e até mesmo respirar, uma vez que ambos os neurônios motores, superiores e inferiores, sofrem danos graves.

A causa direta desta doença ainda é completamente desconhecida, pois apenas 5 a 10% dos pacientes a herdaram de um dos pais.

A esclerose lateral amiotrófica é primeiramente distinguida pela rigidez e espasmos musculares e, posteriormente, pela atrofia muscular causada pela inércia.

O início desta doença geralmente ocorre entre as idades de 50 e 60 anos, e a taxa de sobrevida é tipicamente entre dois e quatro anos a partir dos sintomas iniciais. Apenas 10% dos pacientes com ELA vivem mais de 10 anos após serem diagnosticados.

No mundo em desenvolvimento, as taxas de esclerose lateral amiotrófica estão sendo investigadas, mas na Europa e na América do Norte já se sabe que a esclerose lateral amiotrófica afeta cerca de dois a três indivíduos por 100.000 pessoas a cada ano.

A ciência moderna não encontrou uma cura até agora, e a causa mais frequente de morte é a insuficiência respiratória devido à decadência muscular.

“ELA é uma condição séria com uma causa desconhecida, onde os neurônios que controlam o movimento muscular voluntário decaem prematuramente e desaparecem.”

Breve história da ELA

A primeira pessoa a descrever esse distúrbio foi um cientista escocês chamado Charles Bell, em 1824.

Em 1850, Augustus Waller observou e ilustrou pela primeira vez as fibras nervosas danificadas e ressecadas que degeneraram por causa disso.

O neurologista francês Jean-Martin Charcot cunhou o termo esclerose lateral amiotrófica em 1874, e em seu artigo ele fez a conexão entre os sintomas e os problemas neurológicos agora comumente associados à ELA.

Em 1939, esta doença ganhou atenção mundial quando a lenda do beisebol Lou Gehrig foi atingida por ela, falecendo da doença dois anos depois.

Sem dúvida, a vítima mais famosa da ELA foi o teórico físico e cosmólogo inglês Stephen Hawking, que tinha uma forma rara desta doença que começou muito cedo em sua vida (em 1963, quando tinha 21 anos).

Os primeiros diagnósticos médicos lhe deram o prognóstico de apenas dois anos, contudo ele viveu com ELA por 55 anos.

“A ELA foi descrita pela primeira vez no início do século XIX e ganhou atenção mundial quando Lou Gehrig foi atingido por ela.”

Pesquisas disponíveis sobre ELA e canabinoides

O canabinoide CBD foi confirmado como sendo um excepcional agente de controle de crises para pacientes com epilepsia, e também como uma ajuda viável para pacientes que sofrem de ParkinsonAlzheimer e Esclerose Múltipla.

Em vista disso, podemos objetivamente dizer que os fitocanabinoides são de fato ferramentas poderosas que podem ser usadas na batalha contra muitas doenças e distúrbios neurológicos e neurodegenerativos.

Infelizmente, a pesquisa sobre esclerose lateral amiotrófica e canabinoides ainda está em sua infância, mas o corpo de trabalho disponível mostra alguns resultados muito promissores.

O primeiro estudo a ser feito é de 2006, conduzido em camundongos. Nesta pesquisa, os cientistas usaram uma medicação chamada AM1241, que é um agonista de CB2 baseado em canabinoide criado artificialmente. Um agonista é uma substância química que se liga a um receptor celular, fazendo com que ele realize uma reação biológica.

CB2 é um dos dois tipos de receptores canabinoides encontrados em todos os mamíferos (o outro é o CB1), e estes receptores são uma parte essencial do sistema endocanabinoide (SEC), juntamente com as células correspondentes que executam várias tarefas dentro do nosso corpo.

O sistema endocanabinoide é uma vasta rede de receptores canabinoides e células correlativas que são ativadas por esses receptores, localizados no cérebro, na medula espinhal e em órgãos vitais, além de outros tecidos.

O SEC desempenha um papel importante em numerosos processos, desde o sono, humor, funções imunológicas, metabolismo, movimento e dor, e garante que todo o corpo esteja em homeostase, que é um traço evolutivo dos organismos vivos para produzir equilíbrio e estabilidade em seus elementos interdependentes e, portanto, em si mesmo.

A homeostase é tentada (e às vezes alcançada, dependendo da saúde geral de um indivíduo) através de numerosos mecanismos fisiológicos.

Nosso corpo produz canabinoides internos chamados endocanabinoides, e os compostos da planta da maconha acessam o SEC de maneira similar aos nossos próprios endocanabinoides.

É assim que a intoxicação psicoativa com THC afeta nosso cérebro, e esse mesmo caminho é ativado para muitos outros benefícios médicos que a cannabis tem a oferecer.

Os endocanabinoides são biorreguladores internos e suas ações são limitadas a funções parácrinas (célula a célula) ou autócrinas (mesma célula).

Embora ainda não sejam completamente compreendidas pela ciência, as funções dos endocanabinoides são principalmente benéficas, mas também podem contribuir para muitos efeitos negativos (sensibilidade à insulina, problemas metabólicos, inflamação), porém isso só acontece se o SEC não estiver funcionando adequadamente, quando o corpo não está em homeostase.

É aqui que os canabinoides da cannabis entram em jogo, e podemos agora voltar para os ratos que nos ajudaram a entender como ajudar os pacientes com esclerose lateral amiotrófica.

Os cientistas identificaram que, embora a patologia primária da ELA seja a degeneração do neurônio motor, outras células não neuronais também contribuem para o rápido avanço desta doença, particularmente os processos inflamatórios que a acompanham.

A medicação AM1241 à base de canabinoide ajudou a retardar a progressão da ELA através da diminuição da inflamação e hiperalgesia (que é uma sensibilidade aumentada à dor, causada por qualquer dano aos nociceptores, que são neurônios sensoriais encarregados de enviar sinais de ameaça ao cérebro e coluna vertebral, ou danos aos nervos periféricos regulares). ( 1 )

O progresso geral da ELA foi significativamente retardado pela diminuição desses processos negativos e, devido à base natural da AM1241, a medicação foi extremamente bem tolerada pelos camundongos.

Em 2010, outro estudo pré-clínico também foi realizado em camundongos e publicado no American Journal of Hospice and Palliative Care.

Os resultados desta pesquisa mostraram ainda mais evidências para o efeito da cannabis contra o rápido início da doença, e também da diminuição geral dos sintomas da ELA.

Uma equipe de cientistas encarregada do estudo concluiu que os canabinoides da cannabis possuem os efeitos versáteis que são necessários para combater a natureza intricada e complexa da esclerose lateral amiotrófica. ( 2 )

Esses efeitos são:

Características antioxidantes

Características anti-inflamatórias

Características neuroprotetoras

De acordo com os resultados, a cannabis aumenta a captação de glutamato, que controla a excitabilidade das células cerebrais e melhora a função mitocondrial (mitocôndrias são organelas, uma parte da célula que cria energia para essa célula específica).

Os canabinoides também aumentam os fatores de crescimento neurotróficos, moléculas que auxiliam na sobrevivência e crescimento de neurônios novos e maduros.

Um melhor envolvimento das células da micróglia é também uma das funções da cannabis que é benéfica para os sintomas da ELA. Micróglias são células do sistema imunológico, localizadas especificamente no cérebro e na medula espinhal.

Por fim, o estudo concluiu que a cannabis aumenta a atividade de agentes antiapoptóticos, responsáveis ​​pela prevenção da morte celular, também conhecida como apoptose.

Os cientistas também acrescentaram que a cannabis tem outros mecanismos úteis para aliviar os sintomas da ELA, incluindo a redução da saliva, auxílio no sono, aumento do apetite, redução da dor, relaxamento dos músculos e efeitos da broncodilatação.

Embora esses efeitos tenham sido observados em camundongos, todos os mamíferos têm semelhanças neurológicas e celulares, e a equipe responsável por este estudo concluiu que:

“Com relação ao tratamento da ELA, tanto do ponto de vista da modificação da doença quanto do manejo dos sintomas, os ensaios clínicos com cannabis são o próximo passo lógico.”

Eles também adicionaram:

“Com base nos dados científicos atualmente disponíveis, é razoável pensar que a cannabis pode retardar significativamente a progressão da ELA, aumentando potencialmente a expectativa de vida e reduzindo substancialmente a carga geral da doença”.

“Os canabinoides da cannabis possuem atributos antioxidantes, neuroprotetores e anti-inflamatórios, e são capazes de obstruir a progressão da ELA, ao mesmo tempo em que diminuem os numerosos sintomas associados a essa doença.”

Estudos e pesquisas em humanos sobre ELA e Cannabis

Também apresentado no American Journal of Hospice and Palliative Care, uma pesquisa de 2004 começou a descobrir o efeito do uso de cannabis na ELA em humanos. Seu método era perguntar a 131 pacientes com ELA várias questões, 13 dos quais se automedicaram com cannabis por pelo menos 12 meses antes da pesquisa.

Os resultados foram bastante positivos em relação à cannabis, uma vez que os pacientes relataram diversos benefícios com o uso da planta. ( 3 )

Uma das principais vantagens inclui o alívio da depressão, que geralmente acompanha a ELA em algum grau – a mente permanece completamente intacta à medida que a doença avança, sendo uma doença verdadeiramente devastadora.

Os pacientes também relataram redução da dor, aumento do apetite e redução da espasticidade muscular .

Todos esses achados se correlacionam com as conclusões dos cientistas envolvidos no estudo com camundongos a partir de 2010.

Infelizmente, a quantidade e o tipo de cannabis usada ​​pelos pacientes nesta pesquisa são desconhecidos.

Em 2012, houve um esforço colaborativo entre a organização sem fins lucrativos PatientsLikeMe e uma equipe de pesquisa acadêmica profissional.

Os pesquisadores pesquisaram em detalhes 48 pacientes com ELA (dentro da comunidade do PatientsLikeMe) que estavam usando maconha como uma ferramenta para o alívio dos sintomas, e então analisaram os dados que os pacientes lhes forneceram.

Posteriormente, publicaram um artigo que inclui descobertas sobre os sintomas que a cannabis ajudou a diminuir e também fornece dados sobre o lado negativo do consumo de cannabis.

A influência positiva da cannabis incluiu melhorias na fala, apetite, humor, sono, deglutição e fasciculações, e maior facilidade para defecar e urinar. ( 4 )

Quanto aos efeitos colaterais do consumo de cannabis, os pacientes notaram vertigem, dor de garganta, boca seca, olhos vermelhos e dificuldades de coordenação.

As sensações de dor de garganta provavelmente teriam sido evitadas por métodos alternativos e saudáveis ​​de uso de cannabis, como comestíveis, vaporizadores e cremes tópicos infundidos com canabinoides.

Outro estudo, publicado em 2015, enfocou as diferenças entre cannabis regular e dronabinol, principalmente para pacientes com ELA.

Os cientistas concluíram que o dronabinol teve efeitos colaterais mais graves do que a cannabis regular, causando muita sedação, e também que a psicoatividade desse tetrahidrocanabinol artificial era maior que a substância natural. ( 5 )

Os canabinoides sintéticos são legais em muitos países onde a cannabis não é, devido à sua “origem não canábica”, mas é claro que também foram criados para que a indústria médica pudesse patentear o medicamento.

A única vantagem do dronabinol é que ele pode ser um substituto do THC, onde a cannabis não é legalizada, mas, fora isso, é uma alternativa muito pobre.

Consumir toda a planta é muito mais benéfico por causa do “efeito entourage”. Essa expressão foi cunhada por Raphael Mechoulam e Ben Shabat para descrever como os canabinoides interagem para diminuir os efeitos negativos um do outro (por exemplo, o CBD diminui a psicoatividade do THC) e também como os terpenos colaboram com os canabinoides para produzir toda uma série de efeitos.

“Pesquisas realizadas em pacientes humanos com ELA mostraram que a cannabis alivia a dor e a depressão, além de causar apetite e espasticidade. Melhorias significativas na fala, espasmos, deglutição e defecação também foram relatadas.”

Canabidiol (CBD) e ELA

Como a natureza da esclerose lateral amiotrófica requer que várias funções da cannabis ocorram ao mesmo tempo, incluindo mecanismos antioxidativos, anti-inflamatórios e neuroprotetores, o tratamento da ELA com apenas um canabinoide isolado (THC ou CBD) não seria eficaz devido à falta do efeito de entourage.

O CBD poderia oferecer algum alívio, mas para o efeito completo, flores inteiras devem ser usadas porque contêm tanto os canabinoides quanto os terpenos.

Qual é a melhor strain para ELA?

Escolher a strain perfeita para a ELA é difícil, devido à natureza complicada da doença. Existem algumas coisas que um paciente precisa considerar para obter os melhores resultados possíveis.

Primeiro, consumir sativas puras ou híbridas com predominância sativa é provavelmente uma má escolha por causa da característica de energização dessas variedades.

Em segundo lugar, a razão pela qual as indicas são provavelmente uma escolha melhor é a combinação única de THC e terpenos de cura encontrada nesses tipos de strains.

O terceiro e último fator é o CBD. A presença de ambos os canabinoides parece crucial para os pacientes com ELA, porque cada um fornece seus próprios benefícios distintos, que são necessários para o alívio de sintomas complexos da ELA.

Minha sugestão seria tentar várias linhagens que tenham entre as seguintes características:

Indicas Puras (ou Dominantes Indica)

Altas concentrações de THC

Níveis significativos de CBD (ou proporção de 1:1 de THC-CBD)

A química individual de cada pessoa é a razão pela qual você deve sempre tentar várias opções diferentes, para que possa determinar qual linha funciona melhor para você.

“Variedades de maconha indica-dominante são a melhor solução para quem sofre de ELA.”

Resumo

Levando em conta todas essas informações, as autoridades devem definitivamente considerar a adição da Esclerose Lateral Amiotrófica à lista de condições que qualificam um paciente para cannabis medicinal o mais rápido possível.

Estudos clínicos adicionais certamente revelarão novos benefícios promissores da cannabis para a ELA e ajudarão a entender os mecanismos por trás dela com mais precisão.

Referências

  1. Kim K, Moore DH, Makriyannis A, Abood ME; AM1241, a cannabinoid CB2 receptor selective compound, delays disease progression in a mouse model of amyotrophic lateral sclerosis; European Journal of Pharmacology, agosto de 2006, páginas 100-105.
  2. Carter GT, Abood ME, Aggarwal SK, Weiss MD; Cannabis and Amyotrophic Lateral Sclerosis: Hypothetical and Practical Applications, and a Call for Clinical Trials; American Journal of Hospice and Palliative Medicine, maio de 2010.
  3. Amtmann D1, Weydt P, Johnson KL, Jensen MP, Carter GT; Survey of cannabis use in patients with amyotrophic lateral sclerosis; American Journal of Hospice and Palliative Medicine, março de 2004, páginas 95-104.
  4. Carter GT, Bedlack R, Hardiman O, Pastula DM; ALSUntangled No. 16: Cannabis; junho de 2012, páginas 400-404.
  5. Richard S. Bedlack, MD, PhD,1 Nanette Joyce, DO,2 Gregory T. Carter, MD, MS,3 Sabrina Paganoni, MD, PhD,4 and Chafic Karam; Complementary and Alternative Therapies in ALS; Neurologic Clinics, novembro de 2015, páginas 909-936.

#PraCegoVer: fotografia (de capa) em ângulo superior de uma planta de maconha sendo segurada pelas mãos de uma pessoa que está acima da câmera. Créditos da foto: Getty Images.

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