Dez anos de marcha da maconha

A liberdade de expressão sempre foi garantida pela Constituição Federal, contudo o ativismo pela maconha precisou passar por árduos momentos de violência policial para garantir esse direito. Saiba mais no texto do advogado da Marcha da Maconha André Barros para a Mídia NINJA.

Em 2008, fui à Marcha da Maconha de São Paulo, a fim de dar o necessário apoio jurídico. Assim que cheguei ao Ibirapuera, deparei-me com forte aparato policial, enquanto um comandante exibia, como um troféu nas mãos, uma ordem judicial que proibia o evento. Mesmo assim, cerca de quinhentas pessoas mantiveram sua disposição de sair dali em passeata.

Dissemos aos policiais que seria muito difícil convencer aquele coletivo que a manifestação não poderia acontecer. Sem a presença dos autores da referida ordem ilegal, que raramente aparecem, negociamos durante um bom tempo com a polícia e acordamos que sairíamos em passeata pela “liberdade de expressão”, mas sem qualquer cartaz, faixa, adesivo que contivesse a palavra ou desenho da maconha. Adentramos o grande parque paulistano cantando: “1, 2, 3, 4, 5 mil / vamos legalizar a pamonha no Brasil”.

Pouco tempo depois, chegou nosso parceiro Japa segurando um cartaz de papelão com os seguintes dizeres: “não fumo, mas sou a favor da legalização da maconha. O primeiro a ser preso, soltamos Japa algumas horas após o evento.

No ano seguinte, eu, Gerardo Santiago e Renato Cinco, representando a Marcha da Maconha do Rio de Janeiro, fizemos uma representação contra 10 promotores e juízes que haviam proibido 10 Marchas da Maconha por todo o país. Essa representação gerou duas ações movidas pela Procuradora-Geral da República interina, a Doutora Debora Duprat. Essas ações estavam paradas até 2011, quando ocorreu a Marcha da Maconha de São Paulo.

#PraCegoVer: fotografia de André Barros falando com um microfone na mão em meio a manifestantes durante a Marcha da Maconha de São Paulo. Créditos: Mídia NINJA.

Fiquei na avenida Paulista em frente ao MASP. Logo me posicionei entre os ativistas e a polícia, que estava atrás da Marcha da Maconha. Mal pude acreditar no que vi, quando o policiamento começou a atacar por trás. Ainda falei com o comandante: “Desse jeito, vocês vão acabar legalizando a maconha. Sem me dar a mínima, o comandante ordenou que o destacamento avançasse. Jamais havia conhecido o centro de São Paulo como naquela tarde tão violenta.

As fortes imagens da violência foram transmitidas para todo o país. Lembro que uma faixa preta com os dizeres STF JULGUE A NOSSA CAUSA: ADPF 187 circulava sempre suspensa sem ser abaixada durante todos os ataques da polícia. Ela foi confeccionada e carregada pelo William Lantelme do Growroom, avançando dentre bombas e gases.

Em 15 de junho de 2011, o Ministro Celso de Mello levou nossa ação para a pauta. Seu magnífico e histórico voto foi acompanhado pelos demais sete ministros e assim ganhamos nossa causa no STF por 8 a 0.

Portanto, as Marchas da Maconha de todo o país foram garantidas pela aliança entre as marchas do Rio de Janeiro e de São Paulo. A primeira fez a representação e a segunda pautou o evento na pancada.

Trata-se de um movimento social que atacou sem preconceito por todos os flancos e conseguiu abrir o debate da legalização para todos os fins da maconha no Brasil.

Leia também ~ Marcha da Maconha 2018: agenda dos atos pela legalização no Brasil

#PraCegoVer: fotografia de uma multidão de pessoas durante a Marcha da Maconha. Créditos: Mídia NINJA.

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