Com arma apontada, policial manda casal apagar suposto baseado. Especialistas criticam ação

Com arma apontada, policial manda casal apagar suposto baseado. Especialistas criticam ação - Smoke Buddies

O vídeo, que circulou a web na última semana, demonstra a falta de preparo dos supostos agentes da Lei, que para evitarem um ato acabaram cometendo dois crimes maiores do que o do usuário, algo tipico na nossa polícia brasileira. A cena foi registrada na Linha Vermelha e mostra o casal que, assustado, não chegou a ser revistado. As informações são do O Globo

Um vídeo gravado dentro de um carro em movimento, ocupado por homens fardados e que seriam policiais, mostra uma abordagem inusitada (tá mais para errada) a um casal que estaria fumando maconha, dentro de outro veículo que também trafegava pela Linha Vermelha. Com uma arma apontada em direção ao rosto da mulher, sentada no banco do carona, um deles intimida a dupla:

https://www.youtube.com/watch?v=WiMrG_K0ZzI

  • Vamos apagar essa porra aí. Joga fora. Vamos parar com essa putaria aí – diz o policial, que antes de seguir viagem rindo, responde ao pedido de desculpas do casal: – Desculpa é o caralho.

As imagens foram feitas por uma pessoa sentada à direita do homem que fazia as ameaças. Pelas gargalhadas que eles deram após a abordagem, dão a entender que a intenção era apenas constranger o casal, que não chegou a ser revistado. Nas imagens não fica claro se eles ocupavam um carro oficial ou se estavam em um particular. Numa das cenas dá para ver que há um colete à prova de balas sobre o banco.

Secretário da Law Enforcement Against Prohibition (Leap), organização que se opõe à política de repressão às drogas, o delegado Orlando Zaccone critica o comportamento do suposto policial, que usa uma farda escura:

  • Ele teve uma postura totalmente incabível, que constitui crimes muito mais graves do que o praticado por quem supostamente estava fumando maconha. Não pode apontar arma, não pode mandar apagar, não pode xingar e não pode ir embora. Se ele viu a pessoa com maconha, deveria levar para a delegacia. Ali, foram cometidos pelo menos dois crimes maiores do que o do usuário: abuso de autoridade e prevaricação.

Em nota, a Polícia Militar informou que a abordagem foi totalmente inadequada e que não reflete os ensinamentos passados aos militares. Segundo a corporação, os PMs deveriam solicitar que o carro parasse, realizar a abordagem e conduzir as pessoas para delegacia.

A PM informou ainda que, desde janeiro, policiais militares de todas as unidades vêm recebendo instruções de técnicas e emprego tático do armamento e de abordagem. E, caso seja identificado, o agente será punido disciplinarmente.

A situação lembra uma outra ocorrida na semana passada. Três jovens que viajavam de carro em direção à Região dos Lagos foram parados por uma patrulha na beira da estrada. PMs revistaram o carro e encontram um cigarro de maconha.

  • Eu estava tratando você como cidadão, agora vou tratar como maconheiro – disse o policial, segundo o relato de um dos abordados.

Os três jovens foram levados ao posto policial e os quatro PMs passaram a contar histórias dos ‘esculachos’, expressão que significa maus-tratos e agressões, já praticados por eles contra usuários da droga. Depois de duas horas dentro do posto, um dos militares se cansa da conversa e avisa:

  • Revistei todos vocês. Sei quanto cada um tem na carteira. Quer que isso termine bem pra mim e pra vocês? Vão ali fora, conversem e voltem aqui.

Um dos jovens disse que eles deixaram R$ 40 sobre a mesa e foram embora. Na saída, receberam de volta, das mãos do policial, o cigarro de maconha apreendido.

Especialista em políticas de drogas, a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Univesidade Candido Mendes, Julita Lengruber, lamenta que um usuário esteja exposto a esse tipo de repressão e defende uma mudança política:

  • Esse episódio mostra claramente que nós precisamos pensar numa outra política de drogas. Está mais do que na hora de o uso de drogas deixar de ser uma coisa que chama atenção da polícia. É mais importante se preocupar nos quase 60 mil homicídios por ano, um nível de violência injustificável para um país que é a sétima economia mundial.

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