Cinco motivos que vão te levar a uma Marcha da Maconha

Uma placa branca com a frase escrita em preto "Legalize a vida" na qual a última letra (a) foi substituída pelo desenho de uma folha de maconha na cor verde, e um fundo desfocado de prédios e árvores. Brasil.

O ano é 2019, em pleno século século 21 é minimamente irracional continuar aceitando a proibição da maconha e uma guerra que só produz inúmeros danos à sociedade, principalmente quando criminaliza a pobreza e o povo negro brasileiro. Abaixo relacionamos cinco motivos que te levarão a refletir sobre a necessidade de ir à Marcha da Maconha e lutar por uma política justa.

Medicinal, recreativo, industrial, pelo seu direito de fumar maconha: seja lá qual for o seu motivo de lutar por uma mudança nas leis com relação à erva, a Marcha da Maconha é uma ótima maneira de pressionar por essa mudança de status quo.

A sociedade e seus governantes precisam enxergar que a maconha é uma substância normal e mais segura que inúmeras outras de nosso cotidiano, como açúcar, álcool, café, tabaco e entre outras. Os usos industrial, medicinal, religioso e adulto (recreativo), junto com seus consumidores, precisam deixar de ser responsabilizados por uma guerra falida e a Marcha da Maconha é um ótimo momento para promover esse debate.

Convide uma pessoa ‘do contra’ para ler este, normalize o tema com esta e compareça a uma Marcha da Maconha. Confira a agenda no final do artigo.

A seguir elejo cinco bons motivos para você, consumidor ou não, comparecer a uma Marcha da Maconha.

A GUERRA ÀS DROGAS É UM FRACASSO

A regulamentação da maconha está avançando pelo mundo e as retrógradas legislações proibicionistas estão dando lugares às políticas públicas que situam o uso de drogas fora da esfera criminal. A guerra às drogas nunca inibiu o consumo, não diminuiu o tráfico e aumentou a violência e a corrupção da polícia. E, principalmente, ajudou a super povoar as cadeias com uma só parcela da sociedade, jovens negros e pobres.

Hoje a guerra às drogas produz lucros a uma pequena lista de envolvidos. Na linha de produção e distribuição no atacado, ocorre o lucro, principalmente, de banqueiros, empresários e políticos; já na linha do comércio varejista, acontece o combate ferrenho ao tráfico e a violência. E nesse combate todo entre pessoas que estão no tráfico e agentes da lei, as maiores vítimas são o povo negro e você que nos lê.

A guerra se dá com ‘homens do tráfico’ negros e armados enfrentando ‘homens da lei’ negros e armados, ceifando vidas de pessoas pobres e em sua boa parcela negras. A redundância é proposital para explicitamente mostrar a real origem e foco desta guerra, que é a criminalização e execução de pessoas negras, pobres ou fora dos padrões impostos por uma sociedade criminalizadora.

PRESSÃO SOCIAL PELO FIM DA GUERRA CONTRA AS PESSOAS!

Quando não mortos, uma parcela significativa desta população é condenada à pós-graduação do crime: as prisões brasileiras. É sabido por todos nós que prisão não repara ninguém e na maioria dos casos corrompe o psicológico, além de formar profissionais do crime, e a lei de drogas que muitos apoiam tem impulsionado isso. Lembre-se, não ser contra é o mesmo que apoiar.

#PraCegoVer: fotografia mostra o momento em que um caminhão do exército transporta em sua caçamba três pessoas negras, juntas a um pé de maconha e escoltadas por cinco militares igualmente negros. Uma ocorrência durante a intervenção federal no Rio de Janeiro.

A atual Lei Antidrogas (Lei 11.343, de 2006), apesar de não prever a prisão para quem fuma maconha, permite que a pessoa seja presa pela posse da substância. Como consequência, milhares de pessoas que são apenas usuárias da droga são presas anualmente, ajudando na superlotação do sistema carcerário brasileiro. Mais de 40% dos 730 mil presos no Brasil estão envolvidos em crimes relacionados às drogas.

Esperar o STF ou o Legislativo descriminalizar, regulamentar ou simplesmente atualizar a atual lei de drogas, é apostar num futuro com mais corrupção, injustiça racial, violência, vítimas e pessoas sendo condenadas por algo que se fosse regulado geraria cura, empregos, renda e benefícios a toda a sociedade.

PELO USO TERAPÊUTICO, MEDICINAL E BEM-ESTAR

As reivindicações acerca da regulamentação da maconha para fins medicinais vêm ganhando muita força com a presença de mães, pais e familiares que lutam para tratar suas crianças com canabinoides. É impreterível esse direito a estes, mesmo que por vias, ainda muitas das vezes, demasiadamente burocráticas. Burocracia que ainda impede, além das crianças, muitos brasileiros, em sua maioria de baixa renda, de terem os benefícios medicinais da maconha.

Benefícios estes que vêm sendo provados cientificamente cada vez mais e não serão ignorados pela população. Se a regulamentação não surgir, teremos mais pessoas sendo criminalizadas por usarem uma erva em busca de saúde e bem-estar.

REPARAÇÃO SOCIAL

Maconha é Agro, agro é tudo! A matemática é simples: some a cultura de cultivo do país, ao clima, junto à garra e força de vontade dos brasileiros. Se hoje o Canadá e a Colômbia estão como responsáveis pela maior parte da erva cultivada no planeta, com certeza o Brasil estaria em primeiro neste ranking.

Países onde a regulamentação da produção e cultivo e toda a cultura acerca da maconha já são realidades e se vive uma verdadeira e lucrativa corrida do ouro verde. Mas junto à luta, motivada por questões econômicas, tem que vir também ações e políticas que deem condição justas aos brasileiros de serem inseridos neste mercado. Se não poderemos presenciar um “El Dorado” da maconha por todo o Brasil, onde uma pequena parcela com poderes aquisitivos exploram além dos recursos naturais e técnicos, enquanto uma imensa parcela fica de fora ou é usada como mão de obra de baixo custo.

Fotografia em close e vista superior das mãos de uma pessoa triturando um pouco de maconha e vestindo uma camiseta da Marcha da Maconha no Rio de cor verde onde se lê em branco #SoltaOPreso! Juiz.

#PraCegoVer: fotografia em close e vista superior das mãos de uma pessoa triturando um pouco de maconha e vestindo uma camiseta da Marcha da Maconha no Rio de cor verde onde se lê em branco “#SoltaOPreso!”. Créditos: Dave Coutinho.

A regulamentação da maconha no Brasil não deve seguir um modelo pré-definido ou testado pelo Canadá, Estados Unidos e Uruguai, mas sim um modelo de acordo com a realidade brasileira. A legalização e seus frutos tem que chegar para os grandes players do mercado (todos estrangeiros), mas também igualmente a todos os brasileiros, e principalmente aos que foram prejudicados por décadas de proibição. Ações e políticas de reparação social devem ser tão ou mais importantes e caminhar lado a lado de novas políticas.

A população e suas comunidades negras e pobres, as maiores vitimas na linha de frente desta guerra, merecem ter suas vidas reparadas. Com a economia gerada com a maconha legal é possível capacitar, educar, empregar e reinserir na sociedade uma parcela que já foi criminalizada por crimes leves relacionados à maconha, um tópico que deve ser obrigatório em cada debate e tentativa de mudança legal. Legalização sem reparação é besteira!

É LEGAL, NÃO É CRIME E TODO MUNDO USA

Não to aqui para te chamar para “umdois“, um “tapinha na pantera” ou “um pega”, mas para lhe informar que o uso de cannabis tem vários aspectos legais. Em pontos jurídicos, FUMAR MACONHA NÃO É CRIME, mas portar, cultivar e vender sim, nestes verbos há crimes, que louco não? Consumir maconha é um direito pessoal de cada um e tal conduta não é criminalizada, mas isso só se você for de uma classe privilegiada, de brancos com altos poderes aquisitivos. Para pobres e negros, a conduta é criminalizadora.

Poderia citar uma lista de inúmeras pessoas brancas e com poderes de influência ou financeiro que consomem maconha, o que não é crime. Pessoas, como a mais recém explanada, por sua mãe Xuxa, Sasha Meneghel, que fazem o uso e defendem uma nova política: Bob Burnquist, Luana Piovani, Betty Faria, Bento Ribeiro, Gregório Duvivier e Caio Blat, esses últimos até cultivam. Entre muitas outras pessoas da sociedade que podem serem próximas a você, mas que não são vistas como criminosos por serem de um grupo pessoas brancas ou privilegiadas.

Ser branco e ter privilégios não é o problema. Eu, que escrevo este, sou branco e não sou criminalizado tal como uma pessoa negra de comunidade. Igualmente, a Glória Maria, que é mulher e negra, já deu seus tapinhas explanados na Jamaica, mas nem por isso foi ou será criminalizada. O problema da lei, além de muitos, é a sua aplicação ser válida a apenas uma parcela da população, e, assim, me sinto no compromisso de buscar uma justiça igualitária e equitativa e lutar pelo fim da guerra contra negros e pobres com quem vivo e até desconheço. Hoje, a guerra às drogas não incomoda tanto a uma parte da população, porque não são nos bairros nobres onde caveirões, polícia e militares entram devastando tudo, mas no dia que chegar à porta deste, já será tarde para lutar.

Mãos de uma pessoa que está atrás da câmera, tatuadas com as siglas THC (mão esquerda) e CBD (mão direita) e formando um coração por onde pode-se ver (plano de fundo) o morro Dois Irmãos, no Rio de Janeiro. Smoke Buddies.

#PraCegoVer: fotografia (de capa) das mãos de uma pessoa que está atrás da câmera, tatuadas com as siglas THC (mão esquerda) e CBD (mão direita) e formando um coração por onde pode-se ver (plano de fundo) o morro Dois Irmãos, no Rio de Janeiro. Créditos: eu mesmo.

LEGAL também é a luta dos coletivos e ativistas antiproibicionistas. As Marchas da Maconha e manifestações pela regulamentação são garantidas pelo Supremo Tribunal Federal. É um direito de todos, a manifestação e liberdade de expressão.

Nossa lei de drogas é caduca, não criminaliza o consumo para alguns mas a outros sim. Proíbe e condena quem tá na cadeia antes do consumidor final, ao tempo que se regulada estaria gerando empregos e impostos que seriam revertidos a todos na sociedade através de educação, infraestrutura, saúde e muito mais. E se, por tudo exposto acima, você já tá convencido a ir a uma Marcha da Maconha, confira a seguir a agenda dos atos pelo Brasil. Caso contrário, vá assim mesmo e comprove que estou errado. Críticas, dúvidas e sugestões 😉 davecoutinho@smokebuddies.com.br ou pessoalmente em alguma Marcha.

UM MOTIVO EXTRA

Seja qual for a sua crença, acerca da regulamentação da maconha, lhe dou bons motivos para ir a uma Marcha da Maconha. Vislumbre um futuro melhor, por mais que sejam atos por direitos e com muitas histórias de lutas, a alegria, das pessoas e crianças presentes nestes te farão enxergar que um FUTURO com LEGALIZAÇÃO não será problema, inclusive pode ser a solução para muitos deles. Assista abaixo o registro feito por nós em dois atos passados, um no Rio e outro em São Paulo.

AGENDA – ATOS E MARCHAS DA MACONHA 2019

? 04/05

? 05/05

? 11/05

? 18/05

?25/05

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Tem marcha na sua cidade e faltou na lista acima? Comente e mande pra gente o link do ato em sua região. Normalize e compareça a uma Marcha da Maconha!

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) traz o registro feito durante a Marcha da Maconha em São Paulo de uma placa branca com a frase escrita em preto “Legalize a vida” na qual a última letra (a) foi substituída pelo desenho de uma folha de maconha na cor verde, e um fundo desfocado de prédios e árvores. Créditos da foto: Diogo Vieira / Smoke Buddies.

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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