CBD está em toda parte, mas os cientistas ainda não sabem muito sobre

Fotografia de um frasco cilíndrico transparente contendo uma substância amarela e, logo acima, um conta-gotas com o mesmo líquido e parte da mão que o segura; o frasco está sobre uma superfície de madeira e ao lado de flores secas de maconha e um estetoscópio, e, ao fundo desfocado, pode-se ver plantas de cannabis em período vegetativo. EUA.

Diversos estudos revelam os benefícios medicinais do CBD, porém as classes médica e científica ainda demonstram receio com relação ao composto da maconha, que ainda paira numa área cinzenta da legalidade nos EUA. As informações são do The New York Times, via Estadão.

O canabidiol, ou CBD, componente não entorpecente da maconha, é promovido como um remédio mágico capaz de aliviar a dor, a ansiedade, insônia e depressão. Pomadas, sprays, tinturas e óleos são vendidos como afrodisíacos; como remédio para eczema, acne e ondas de calor; e como tratamento para doenças sérias como diabetes e esclerose múltipla. Mas os cientistas sabem pouco a respeito do CBD. A agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos (Food and Drug Administration, FDA) aprovou apenas um remédio contendo CBD, o Epidiolex, depois de testes clínicos terem revelado que ele reduz as crises em crianças com formas raras de epilepsia.

“É grande a empolgação em torno de tudo que envolve o CBD”, disse Orrin Devinsky, diretor do Centro Langone para a Pesquisa da Epilepsia, da Universidade de Nova York, que comandou os estudos com o Epidiolex. “Há certamente dados indicando uma variedade de efeitos anti-inflamatórios, mas ainda não sabemos se isso pode ser traduzido em melhorias para a saúde humana.”

Yasmin Hurd, diretora do Centro de Pesquisa do Vício do hospital Mount Sinai, em Nova York, disse que a substância parece reduzir o desejo por heroína entre os viciados em processo de recuperação. “Vamos desenvolver as pesquisas. É loucura pensar que uma substância tão amplamente consumida por todos ainda não teve seu mecanismo de ação desvendado”.

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O CBD apresenta um perfil de segurança relativamente positivo, disse Hurd. Mas pode causar efeitos colaterais adversos, incluindo insônia e diarreia. Os pacientes dos testes com o Epidiolex também apresentaram um maior número de infecções e alergias, além de redução no apetite, problemas para dormir e elevação nas enzimas do fígado. É possível que a interação do CBD com outros medicamentos produza efeitos negativos.

Há estudos em andamento para avaliar se o CBD é capaz de aliviar a ansiedade ou o estresse pós-traumático, ajudar a deixar o cigarro, ou incrementar o efeito de tratamentos contra o câncer. Estudos em animais indicam que os efeitos anti-inflamatórios podem ajudar a lidar com a dor crônica ou o tratamento para a artrite ou doenças inflamatórias das entranhas como a doença de Crohn. A substância também é avaliada para o tratamento do autismo.

O laboratório GW Pharmaceuticals, que fabrica o Epidiolex, comercializa um remédio para esclerose múltipla na Grã-Bretanha que combina o CBD e o THC, ou tetraidrocanabinol, o componente entorpecente da cannabis, e a empresa está explorando outras possibilidades de uso. Mas especialistas alertam que a combinação de CBD e THC pode ser mais eficaz para determinados males do que o CBD sozinho.

O número de pacientes indagando Michael Van Ameringen, diretor de um centro de pesquisa em ansiedade de Hamilton, Ontário, a respeito do CBD foi tão grande que ele voltou a consultar a literatura médica, concluindo que “na verdade, há pouquíssimas evidências científicas para considerá-lo um tratamento para a ansiedade no estágio atual”.

Algumas pesquisas demonstraram resultados promissores em outras aplicações psiquiátricas. No ano passado, cientistas europeus informaram que pacientes esquizofrênicos que receberam CBD além da medicação antipsicótica habitual disseram sofrer menos com alucinações e pensamentos descontrolados. Mas outros estudos não identificaram os mesmos benefícios.

Um teste clínico israelense identificou que pacientes com doença de Crohn tiveram melhoria quando usaram cannabis, mas um teste controlado e aleatório do CBD usado sozinho não identificou benefício para os pacientes com doença de Crohn resistente aos medicamentos, ainda que os pesquisadores tenham dito que talvez a dose fosse baixa demais para ter efeito.

De fato, a pesquisa envolvendo o CBD se encontra num estágio tão inicial que é difícil até determinar a dose terapêutica correta a ser testada, dizem os cientistas. Um estudo recente, que avaliou dúzias de produtos contendo CBD encomendados na internet, identificou que quase 70% tinham concentrações do ingrediente mais altas ou mais baixas do que o indicado na etiqueta. Alguns continham THC. Hurd alerta que as expectativas em torno da substância são irreais. “As pessoas imaginam que se trate de um remédio paradisíaco, o que é um erro. Não é possível que uma substância seja capaz de curar tudo.”

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de um frasco transparente contendo um substância amarelada, abaixo de um conta-gotas cheio com a mesma substância e parte da mão que o segura, e ao lado de uma porção de flores de maconha secas que estão junto a um estetoscópio; os objetos estão sobre uma superfície de madeira e ao fundo pode-se ver uma planta de maconha em estado vegetativo parcialmente nítida.

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