Educação médica é estratégia para a popularização da cannabis no Brasil

Fotografia em plano fechado do topo de uma planta de cannabis com vários pistilos amarelos concentrados onde será desenvolvido o bud. Imagem: Esteban Lopez | Unsplash.

Empresas investem em cursos on-line para incitar mais profissionais de saúde a prescrever medicamentos à base da erva. Saiba mais no artigo de Ricardo Amorim para o Cannabiz/Veja

Hoje no Brasil há basicamente três caminhos para fazer o mercado da cannabis legal crescer. O primeiro, mais óbvio, é ampliar o número médicos prescritores, uma vez que a regulamentação vigente exige receituário específico para a compra dos derivados da planta. O segundo é mudar a própria regulamentação, ampliando as possibilidades de acesso (autocultivo, cultivo associativo) e a variedade de produtos autorizados, incluindo suplementos alimentares, cosméticos, itens para pets e, claro, o cânhamo industrial. Por fim, há sempre a opção, cada vez mais adotada, da judicialização que, na prática, é fazer a Justiça reconhecer direitos não alcançados pelas regras atuais.

No post dessa semana, quero me concentrar no primeiro ponto: a prescrição por parte de profissionais de saúde. Os números demonstram que a cannabis definitivamente ainda não chegou à classe médica brasileira. Dos 450 mil médicos registrados no país, apenas pouco mais de mil (0,24%) receitam ou já receitaram cannabis para seus pacientes. Para convencer mais doutoras e doutores a adotarem a cannabis, as empresas do setor trouxeram da indústria farmacêutica a prática de visitação aos consultórios, na qual seus representantes apresentam os produtos e discorrem sobre seu potencial terapêutico. Ao contrário do que acontece com outros fármacos, no entanto, o valor medicinal da cannabis é praticamente desconhecido pela categoria, vide a baixíssima taxa de adesão a seus derivados. A falta de informação vem desde os bancos da universidade: poucos cursos de medicina oferecem a disciplina em seus currículos regulares.

Leia mais: Empresa canadense cria curso on-line gratuito de medicina canabinoide

É justamente aí que entram as empresas do segmento, que precisam ampliar a demanda por seus produtos, o que só ocorrerá se houver mais prescrições. Nesta semana, duas das principais competidoras do setor anunciaram iniciativas nessa seara. Em parceria com a Estácio, a Greencare, que comercializa seus medicamentos sob a marca Hempflex, desenvolveu uma versão on-line de seu curso, criado no ano passado. Em um total de 8 horas de duração, a instituição oferecerá a disciplina “Canabinoides: A nova ferramenta da medicina — das evidências científicas à prática clínica” com aulas ao vivo nos dias 26 e 29 de agosto. “A cannabis para fins medicinais é uma realidade, ela tem uma grande aplicabilidade clínica. Mas, por conta do preconceito, muitas pessoas não consideram essa possibilidade. Portanto, um dos objetivos desse curso é educar, levar informação de qualidade e evidências científicas que empoderem os médicos e os auxiliem a utilizar terapias à base de canabinoides como uma ferramenta a mais”, afirma Helena Joaquim, professora do curso e Medical Science Liaison da Greencare, profissional responsável por fazer a necessária conexão entre a companhia e a classe médica.

Também em modalidade on-line, mas com a proposta “autoinstrucional” — na qual o aluno acessa os materiais e realiza as atividades em seu próprio ritmo, sem um tutor — a OnixCann, importadora das marcas Provacan e MGC Pharma, se juntou à Ânima Educação em sua primeira incursão acadêmica. Por meio da Inspirali, vertical de ensino médico da Ânima, serão oferecidos dois cursos: “Introdução à medicina canabinoide”, destinado ao público em geral, e “Medicina Canabinoide: Aplicações Clínicas”, voltado a profissionais de saúde, com o objetivo de “habilitá-los para a prescrição”. Com duração de 30 horas em ambas as opções, os cursos são abrangentes, com aulas que vão da história da planta a indicações em neurologia, psiquiatria e oncologia, entre outras.

Desde seu lançamento, o Cannabiz defende que o conhecimento e as evidências científicas são os únicos antídotos contra o preconceito que ainda impede a popularização do uso medicinal da cannabis. Se nem mesmo os médicos estão convencidos, projetos de educação, ainda que ligados aos interesses comerciais das empresas, são peças fundamentais para desmontar a estrutura da proibição, fruto apodrecido da árvore da ignorância.

Serviço

Canabinoides: A nova ferramenta da medicina — das evidências científicas à prática clínica
Responsáveis: Estácio e Greencare
Datas: 26 e 29 de agosto de 2020
Carga horária: 8 horas
Valor: R$ 790,00 (condições especiais para egressos e docentes de Medicina da Estácio)
Inscrições: estacio.br/posmed

Medicina Canabinoide: Aplicações Clínicas (para médicos)
Responsáveis: Inspirali e OnixCann
Carga horária: 30 horas
Valor: de R$3.700,00 por R$2.590,00 (desconto de 30% para os 20 primeiros alunos que comprarem o curso)
Inscrições: http://inspirali.com/cursos/in-foco/

Introdução à Medicina Canabinoide (público geral)
Responsáveis: Inspirali e OnixCann
Carga horária: 30 horas
Valor: de R$2.200,00 por R$1.540,00 (desconto de 30% para os 20 primeiros alunos que comprarem o curso)
Inscrições: http://inspirali.com/cursos/in-foco/

Leia também:

Mercado em ebulição: cannabis medicinal e academia se aproximam (de novo)

#PraCegoVer: em destaque, fotografia em plano fechado que mostra o topo de uma planta de cannabis com vários pistilos amarelos concentrados onde será desenvolvida a flor. Imagem: Esteban Lopez | Unsplash.

Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!