Uso da Cannabis sativa em tratamentos de saúde divide opiniões

Fotografia da face em perfil, parte do torso e as mãos (a da esquerda segurando um frasco de cor âmbar) de um homem vestido de jaleco branco, na parte esquerda da foto, que observa diversas flores de maconha de cor verde escuro com folhas verde claro. Cannabis.

Inúmeros estudos pelo mundo revelam os benefícios medicinais da maconha, contudo, no Brasil, o preconceito ainda é um entrave para a legalização da cannabis medicinal, que poderia trazer o alívio para muitos pacientes e famílias. Saiba mais sobre o assunto na reportagem do CadaMinuto.

Dividindo opiniões quanto ao seu uso em tratamentos de algumas doenças, a Cannabis sativa tem sido utilizada como medicamento por muitas pessoas no Brasil e em diversas partes do mundo. Mas, apesar dos relatos de pacientes ainda há muitas divergências quanto à sua eficácia, principalmente entre os profissionais da saúde. Porém, no país, a sua legalização está cada vez mais próxima.

Contrário ao uso por pacientes, o presidente do Conselho Regional de Medicina em Alagoas (CRM), o médico Fernando Pedrosa disse à reportagem do CadaMinuto que é favorável ao “uso da Cannabis para fins científicos, porém para fins medicinais não, uma vez que ainda não existe nenhuma comprovação científica”.

Leia: Estudo inovador mostra que a maconha medicinal é eficaz no tratamento de uma ampla gama de doenças

Em nota à imprensa, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) comentaram que o senador Eduardo Amorim se posicionou abertamente contra o projeto. Como médico, ressaltou que, do ponto de vista sanitário e de segurança do paciente, a proposta mais adequada é exigir que os gestores do SUS, nas três esferas federativas, tomem as medidas para fornecer os produtos farmacêuticos à base de Cannabis sativa necessários aos pacientes que deles necessitam, e não o paciente ter em casa uma plantação e um laboratório produtores de psicotrópicos, sem controle farmacológico, farmacêutico, de dosagem e quantidade.

A categoria profissional médica, por não legislar, pode se manifestar e denunciar a desnecessidade do projeto pelo risco da utilização de produtos não padronizados de qualquer natureza. Feitos de forma caseira, sem nenhum controle de teores de canabidiol, podendo colocar em risco a vida dos pacientes, uma vez que não existirá padrão farmacológico garantido, que possa direcionar dosagens seguras, concluiu a nota.

A favor

Luciano Lima, gerente administrativo da Abrace Esperança, organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de não apenas dar apoio às famílias que necessitam do tratamento com Cannabis medicinal, como também realizar pesquisa com os pacientes que utilizam Cannabis medicinal como alternativa de tratamento e atinge mais de 500 associados por todo o país, ressalta que o medicamento feito por eles à base de Cannabis vem de forma oleosa para ser tomado em gotas, spray de resgate e pomada.

Os óleos são com Tetrahidrocanabinol (THC) e com Canabidiol (CBD) e podem ser utilizados em pacientes com autismo, epilepsia refratária, câncer, esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica (ELA), fibromialgia, depressão, dores, ansiedade,  hiperatividade, glaucoma etc.

Églia Kelly se define como ativista da causa e relata que seu filho fazia uso desde maio de 2015 devido à Síndrome de Dravet, “um tipo de epilepsia rara e catastrófica”, descreveu ela. A Cannabis “foi a única substância capaz de controlar as crises convulsivas que ele tinha e trazer-lhe qualidade de vida. Melhorou muito e teve inúmeros ganhos neuropsicomotores”, revelou ela.

Porém, apesar da síndrome estar controlada, em abril deste ano seu filho contraiu dengue, precisou ficar internado para controle de febre, que evoluiu para uma infecção hospitalar e infelizmente não resistiu e faleceu, demonstrando outro sério problema de saúde pública.

Apesar da irreparável perda, Églia declara que: “enquanto voz eu tiver nesta vida, defenderei o uso da Cannabis de forma medicinal porque sou testemunha viva do poder dessa planta”.

Preconceito

Diante do entrave que existe por parte de algumas pessoas da área da saúde, Luciano Lima disse à reportagem do CadaMinuto que “alguns médicos estão procurando mais sobre o tratamento, mas é muito difícil hoje por conta do grande preconceito. As maiores comprovações são nossos casos da Abrace. Canadá e Israel são países número um em pesquisa, inclusive a Cannabis medicinal no Canadá é utilizada desde 2001 e só agora em 2018 foi liberada para recreativo”, destacou o gerente.

Diante da burocracia e do extenso debate diante do assunto, Lima reforça que “em outros países estão regulamentando, só o Brasil que ainda não quer enxergar e quem sai perdendo são as pessoas que precisam fazer uso para ter uma melhor qualidade vida, digo porque sou exemplo, pois tenho filho portador de epilepsia refratária e a melhora dele aconteceu graças à maconha e ao óleo da Abrace”.

As pessoas precisam se conscientizar que “o uso da Cannabis terapêutica é tão importante que em alguns lugares isto está sendo percebido de maneira pública. Em João Pessoa, por exemplo, foi instituído o Dia de Visibilidade do Uso da Cannabis, em votação realizada na Câmara Municipal, lei sancionada pelo prefeito Luciano Cartaxo em setembro”, pontuou Lima.

O Projeto de Lei

Com maioria de votos, a descriminalização do plantio da maconha para uso medicinal foi aprovada já foi aprovada em novembro e o Projeto de Lei agora irá para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e também deverá ser apreciado pelo Plenário do Senado antes de seguir para a Câmara dos Deputados.

O substitutivo da senadora Marta Suplicy também altera a Lei de Drogas e passa a liberar o semeio, o cultivo e a colheita da Cannabis, visando o uso pessoal terapêutico, por associações de pacientes ou familiares de pacientes que fazem o uso medicinal da substância, criadas especificamente com esta finalidade, em quantidade não mais que a suficiente ao tratamento segundo a prescrição médica.

Legitimação

Para fornecer maior segurança e legitimar o plantio de Cannabis sativa para fins terapêuticos e de pesquisa, uma comissão de juristas foi formada para avaliar uma atualização da lei antidrogas. Entre as medidas que devem entrar no documento está a especificação de quantidade para diferenciar o uso do que configura crime de tráfico.

Estima-se uma média de seis meses até que os trâmites possam chegar até a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que oficialize e regulamente o cultivo da Cannabis sativa para fins medicinais e de pesquisa.

#PraCegoVer: fotografia (capa) da face em perfil, parte do torso e as mãos (a da esquerda segurando um frasco de cor âmbar) de um homem vestido de jaleco branco, na parte esquerda da foto, que observa diversas flores de maconha de cor verde escuro com folhas verde claro.

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