Cânhamo: um fator econômico maior que a maconha

Uma das indústrias com maior potencial para o crescimento econômico, manutenção da sustentabilidade e preservação do meio ambiente é a do Hemp ou Cânhamo, o primo careta da maconha. Saiba mais sobre o tema no artigo publicado no portal Benzinga, com tradução e adaptação para o Smoke Buddies por Gabriel Broitman.

O que é o cânhamo?

O cânhamo e a maconha são coisas diferentes? Não. O cânhamo, tradução de ‘hemp’, nada mais é do que a própria cannabis, só que geralmente cultivado com métodos de cultivo específicos para o desenvolvimento de variações genéticas que tenham crescimento rápido e pouca concentração de THC. Além do baixo nível de THC, o cânhamo costuma ter um nível de CBD mais alto, o que inibe a parte psicoativa da planta quase que por completo.

A maconha e a indústria

A maconha para uso industrial tem potencial para ser um dos principais negócios lucrativos da economia, com mais peso que a maconha medicinal e recreativa. É o que disse Cynthia Salarizadeh ao site Benzinga, durante uma conversa sobre o recém criado grupo Cannabis Trend Report, que trata de todos os efeitos da legalização na indústria, cultura, política, sociedade etc.

“É fascinante termos chegado tão longe na legalização da maconha, e ainda assim as pessoas não estarem focando no seu uso industrial tanto quanto eu esperava”, ela disse.

Não foi a primeira vez que o tema veio à tona. Em maio, Leslie Bocksor, investidora e presidente da empresa de consultoria de maconha Electrum Partners, explicou ao portal financeiro Benzinga que o cânhamo pode ser o futuro do plástico. Mas, de acordo com Salarizadeh, tem muito mais para se explorar.

Explicando

Alguns anos atrás, Salarizadeh se formou na Universidade da Pennsylvania e sua monografia foi focada na indústria do petróleo. Durante o processo de formação ela foi se desencantando aos poucos, levando em consideração que nossa dependência de petroquímicos e combustíveis fósseis não parecia ter perspectiva de mudança em um futuro próximo, considerando os interesses econômicos por trás disso.

Quando conheceu a maconha industrial, o hemp, ela descobriu que esse material poderia não só fazer plástico, mas óleos, combustíveis, papel, produtos têxteis e muito mais.

“Usos para o cânhamo são muitos, e com impressionantes impactos positivos, mas infelizmente não muito reconhecidos”, ela disse. “Meu trabalho é dar destaque aos efeitos positivos da maconha. A ideia implantada pelo governo de que é uma droga pesada e te mata nada mais foi do que uma campanha para favorecer interesses da época”.

Conquistar corações e favorecer a maconha quando o assunto é cannabis medicinal é mais fácil, levando em consideração os benefícios vastos que a erva possui. Só que para a pesquisadora o que realmente vai mudar o mundo é o uso industrial da cannabis.

“O que o hemp industrial pode e vai fazer é muito significante. É estranho, na realidade bizarro, que uma grande parte dos EUA ainda não tenha legalizado o cânhamo. O que precisa ser feito agora é a exposição das reais possibilidades produtivas que a maconha pode ter na mídia para se conseguir investimento na área.”

Derek Riedle, da Civilized Media, expressou o mesmo sentimento, dizendo que: “Se a mídia focasse na maconha industrial, trazendo os benefícios sustentáveis e econômicos, as regulamentações seriam muito mais fáceis e investimentos altos entrariam”.

Sustentabilidade

O hemp é carbono-negativo, o que significa que a planta por si só, assim como qualquer outra, recebe carbono do ar, possibilitando que produtos feitos com a mesma, como o plástico, possam ser descartados em terra aberta sem agredir o meio ambiente, retornando o carbono para o solo – pelo menos é o que estudos recentes sugerem.

Na mesma linha de pensamento, Salarizadeh apontou que a erva pode também melhorar a qualidade do solo:

“Sempre que você fizer uma colheita, o solo ficará fraco, afinal nutrientes são sugados. Um fato interessante é que existe uma alternativa para preencher o solo com todos os nutrientes: HEMP. Então não só INDUSTRIALMENTE seria aplicável, mas também na agricultura.”

Para sustentar seu argumento, Salarizadeh mencionou um artigo do site “Ministry of Hemp“, que explica: “o processo de usar ‘coisas vivas’ para curar o solo, permitindo que limpemos e tomemos de volta as terras poluídas é conhecido como biorremediação”.

“Por mais que bactérias e outros micro-organismos possam ser usados, a fitorremediação depende de colheitas como a do hemp”, segundo o autor do artigo, Kit O’Connell, que complementa: “[hemp] pode ser também utilizado como limpador de metais, pesticida, solvente, explosivo, óleo, hidrocarboneto poliaromático e purificador de solo”.

Ecologia

Além de ser sustentável, e possuir os atributos de carbono-negativo, o cultivo de hemp é amigável para o meio ambiente. Um post do Recreator argumenta que a planta precisa da “metade do espaço por tonelada de produto têxtil, comparada ao algodão, e ainda pode ser cultivada sem herbicidas”.

Pode não parecer tão importante assim, mas é. De acordo com dados do Banco Mundial, a produção de produtos têxteis é responsável por mais de 20% da poluição da água em escala global, com até 700 galões de água e 250 gramas de químicos para produzir uma camisa de algodão.

“No momento atual, o mundo como um todo precisa urgentemente de um substituto para a indústria dos combustíveis fósseis e para as plantações de soja, girassol e algodão que causam danos ao meio ambiente”, de acordo com David Neisingh, fundador da empresa de Hemp e CBD, Reakito Labs.

Na opinião dele, por mais que existam saídas tecnológicas para remediar a situação, a única solução deve ser uma que seja totalmente natural e orgânica.

“Se fôssemos com a maconha industrial, estaríamos substituindo combustíveis e químicos com uma solução que resolveria tanto problemas ambientais quanto socioeconômicos que vivemos hoje.”

E se você acha que acabou, tem mais.

Potencial ilimitado

O hemp não só gera produtos totalmente aproveitáveis e biodegradáveis, como também beneficia o solo e não precisa de pesticidas fortes e prejudiciais. E mais, é resistente a chuvas e alagamentos e produz mais de 50 mil produtos, indo de comida e celulose até químicos e combustíveis.

Alguns fatos sobre o cânhamo:

• As sementes possuem níveis altos de ômega 3, 6 e 9 quando ingeridas. Valores mais altos que azeitonas e sementes de girassol;
• A quantidade de proteína extraída de uma planta de maconha é superior as de “whey”, soja ou girassol;
• A fibra super forte contida no hemp foi utilizada por anos para fazer cordas, produtos têxteis e lonas;
• A parte interna da haste da cannabis possui um material poroso de celulose que produz materiais de construção com alta absorção e excelente base, incluindo um tipo de concreto que, de acordo com o fundador do Hempire UA, Sergiy Kovalenkov, cria um ambiente mais saudável e seguro do que os feitos com produtos de construção convencionais: “Esse produto é único, em terremotos, por exemplo, as estruturas construídas ele não vão rachar e a resistência dos edifícios é 3 vezes maior que a do concreto. Além de exiger menos energia para ser produzido”.

Hemp e Economia

Finalmente, chegamos ao potencial econômico.

Na análise de mercado chamada “State of Hemp 2017”, o Hemp Business Journal estimou que a receita total gerada por produtos de hemp nos EUA em 2016 alcançou pelo menos 688 milhões de dólares. Espera-se que até 2020 a receita aumente para U$ 1,8 bilhões em vendas, principalmente de produtos alimentícios, estéticos/tratamentos e com base de CBD.

“Os dados demonstram que, apesar de muito restrita ainda nos EUA, em até 5 anos essa indústria cresça cerca de 22%. O crescimento anual da venda dos produtos descritos acima, em 2016, foi de 63% e neste ano, 2017, o anual foi de 38% até o momento”, segundo Sean Murphy, fundador do Hemp Business Journal.

A última pesquisa feita mostra que o CBD do hemp é de longe a categoria que mais cresce na indústria da maconha industrial, com receita de U$ 395 milhões até 2020 para os produtos derivados do hemp-CBD.

“É importante saber a diferença entre o CBD derivado da maconha industrial e o da maconha medicinal e como esses possuem cadeias de abastecimento paralelas, por isso não estão na mesma categoria”, disse Sean.

“A receita TOTAL de CBD (produtos derivados do cânhamo e derivados da maconha, além de farmacêuticos) foi de U$ 264 milhões só em 2016, e estima-se que cresça até U$ 1,16 bi até 2020.”

O hemp foi utilizado por anos e assim que for normalizado novamente terá números surpreendentes, levando em consideração os diversos pontos positivos destacados aqui.

“O potencial global para a indústria do hemp como um commodity lucrativo existe, cabe agora à mídia dar a atenção necessária ao assunto. O futuro vai ser mais sustentável, só precisamos colocar a ideia em prática.”

Sobre Gabriel Broitman

Ativista fanático pela planta e os horizontes que ela abre. Tenho 21 anos, estudo sistemas, levo a música no coração e escrevo nas horas vagas 😉
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