Caí no golpe da venda de maconha online no Brasil

A maconha legalizada ainda não é uma realidade no Brasil, contudo um site fake está anunciando a venda da erva no país através de sua loja online e deixando muita gente frustrada ao perceber que se trata apenas de uma ação para captar e-mails. As informações são de Enrico Pieratti para VICE Brasil.

Não era ganja, era cilada.

Aconteceu. Recebi a mensagem de um amigo nas redes sociais falando sobre um suposto site que venderia maconha online no Brasil, o compremaconha.com. Sim, em reais, com frete pra todo o país e parcelado em 12x no cartão de crédito. Abri o link já um pouco desconfiado e entrei em êxtase com direito a pulinhos na cadeira quando vi ali disponível ao meu bel-prazer alguns dos principais strains vendidos nos países onde a erva já é legalizada, como Amnesia Haze, Pineapple Express e até balinhas de goma medicinais com extrato de THC, cada uma pela bagatela de R$ 29,90.

Depois de um breve momento de euforia enchendo o carrinho e já pensando no rombo na minha conta bancária (sem o menor peso na consciência), finalizei a compra e me deparei com a seguinte mensagem:

#PraCegoVer: Ilustração com fundo verde e amarelo e escrito em branco “Atenção: sua compra foi cancelada! Infelizmente a maconha ainda não está legalizada no Brasil! Você pode ajudar a legalizar!”.

Percebi que se tratava apenas de uma ação (malditos publicitários! Ps- também me formei em publicidade) para captar e-mails e, supostamente, “avisar todas as missões importantes para conseguir legalizar a maconha no Brasil”, sem nenhuma informação adicional de quem ou de qual grupo estaria por trás disso.

É claro que a minha primeira reação foi de frustração pela sacanagem de tirar doce da boca de criança, mas após uma pequena pesquisa na interwebs cheguei em um outro domínio, o www.comprarmaconha.org. O site, que não é atualizado desde março de 2016, possui um formato de blog e, apesar da diferença na flexão do verbo do título e nenhum link unindo as duas páginas, a identidade visual é praticamente igual, utilizando a mesma imagem em destaque e até a mesma logomarca no thumbnail do site.

Diferentemente da lojinha virtual que carrega pouquíssimas informações, a página traz um manifesto em prol da legalização levantando pontos importantes como a economia, segurança, redução de danos e saúde pública.

A página apresenta três seções distintas: “Legalize já” – apresentando os projetos sobre o tema no país e seu desenvolvimento –, “Não compre, plante” – ensinando desde técnicas de cultivo até diferenças entre tipos diferentes – e “Maconha pelo Mundo” – apresentando a situação atual em países que a cannabis já é descriminalizada. Há também uma pequena linha com a história da planta no mundo e os motivos da sua criminalização (dada única e exclusivamente por motivos de preconceito racial e social) recente na sociedade, surpreendentemente iniciada no Brasil em 4 de outubro de 1930 com a proibição do “pito do pango” (como a maconha era chamada na época) pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Consegui contato com Luciano, a pessoa responsável pelo domínio comprarmaconha.org. Ele me atendeu de pronto, mas alegou desconhecer a loja virtual e que as duas páginas não possuem nenhuma conexão, apesar da identidade visual similar. Ele contou que criou o blog no final de 2015 para treinar seu recente conhecimento em programação e visando um possível mercado emergente, principalmente quando o tema ainda tramitava no STF e existia uma grande esperança que o processo de descriminalização caminhasse. Porém após o pedido de vista do ministro Teori Zavascki (aquele mesmo do avião) e toda a crise política que se agravou, o processo foi deixado de lado e o blog também.

Sendo assim, a nossa investigação de quem estaria por trás desse fomento ao comércio da erva voltou à estaca zero. Não sabemos ainda se realmente temos um Jesus Cristo da marafa que vai tornar o sonho de todo canabista brasileiro realidade, ou só uma mega corporação querendo tirar o rico dinheirinho dessa classe tão desfavorecida de legislação. O importante é que, infelizmente, por enquanto a maconha (ainda) é proibida no Brasil.

#PraCegoVer: Reprodução do site que simula venda de maconha no Brasil

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