Biografia do grupo Planet Hemp narra tragédias e perseguições

Recorte da parte superior da arte gráfica da capa do livro que traz o nome “Planet Hemp” escrito em verde e no estilo pixação e ao centro, uma foto, em branco e preto, dos integrantes banda dentro de um bonde.

Uma história marcada por tragédias e perseguições que em nada intimidaram o grupo em sua luta pela música e pela maconha. A trajetória do Planet Hemp foi narrada em biografia escrita pelo jornalista Pedro de Luna. As informações são da Folha de S.Paulo.

O Planet Hemp foi formado em 1993 por cinco moradores do Rio de Janeiro. Não sabiam tocar direito os instrumentos, não conheciam nada do mercado da música, mas queriam fazer o negócio virar imediatamente. Estavam com pressa.

“Tínhamos urgência”, conta a este repórter o vocalista Marcelo D2, que montou o grupo ao lado de Skunk (vocal; morto em 1994), Formigão (baixo), Rafael Crespo (guitarra) e Bacalhau (bateria).

“O Skunk estava com Aids, eu tinha um filho pequeno, estava sem grana e com uma frustração enorme por não ter sido skatista. Sentia que tinha deixado escapar um sonho. Então nós queríamos fazer a banda acontecer logo. Não pensávamos em fazer sucesso, mas desde o começo queríamos criar algo relevante. Queríamos mudar o mundo e sentíamos que tínhamos força para isso.”

Antes de ficar conhecido por cantar faixas como “Ex-Quadrilha da Fumaça”, D2, hoje com 51 anos, trabalhou como porteiro de boate e camelô. Chegou a tomar o sopão que era distribuído aos moradores de rua do centro do Rio.

Seu melhor amigo era Luís Antônio da Silva Machado, filho da relação entre uma doméstica e o patrão, que atendia pelo apelido Skunk. Era uma das figuras mais contagiantes do Rio: foi punk, new wave, rockabilly e rapper.

“Era um cara visionário, antecipava tendências. Ele frequentava bancas de jornal e folheava as revistas gringas mesmo sem falar uma palavra de inglês. Ele via o visual da galera, o nome dos artistas, e corria atrás dos discos”, diz Pedro de Luna, 44, autor da biografia “Planet Hemp: Mantenha o Respeito”, que tem lançamento agora em São Paulo.

Leia: Trajetória de 25 anos de Planet Hemp é contada em livro e no filme “Legalize Já”

Skunk foi a primeira pessoa no Rio a organizar uma rave e fazer samples. “Gravava falas do Cid Moreira no Jornal Nacional e misturava com batidas eletrônicas. Sua primeira criação foi misturar o Cid com Lullaby’, do Cure”, diz Luna.

Ele se preocupava muito com a postura no palco e com o visual. “Na contracapa do livro, tem uma foto em que está presente um roadie. Está ali apenas porque tinha dreads no cabelo e o Skunk achava que seria importante para a imagem da banda.”

Sujeito vibrante, Skunk teve momentos pesados por causa de sua doença e da condição da mãe.

“Ele começou a beber muito, a sair com todo mundo, homens, mulheres, travestis. Ele não suportava ver a mãe morando em um cortiço da Lapa”, diz Luna. “E ele amava o D2. Sua morte foi trágica. Pouca gente sabia que tinha contraído o vírus da Aids. Dizia que estava com pneumonia.” Skunk morreu aos 27 anos. Em seu lugar, entrou BNegão.

A banda ficou praticamente parada entre 2001 e 2012, depois de três discos lançados. Nos últimos anos, tem feito shows pelo país.

Se hoje o Planet Hemp é visto como banda bem-sucedida e das mais influentes dos anos 1990, D2 relembra os anos problemáticos.

“[Por causa da temática da maconha] Carregávamos um peso nas costas que outras bandas, como Raimundos e O Rappa, não carregavam. Tínhamos vários shows cancelados, ficávamos sem grana.”

Luna reafirma: “No primeiro clipe, da faixa ‘Legalize Já’, eles aparecem fumando maconha. A MTV enviou para o governo e os caras ordenaram que fosse exibido apenas depois das 23h”.

Depois, shows passaram a ser cancelados. “Era uma censura velada. Saiam para fazer cinco shows e três eram cancelados. Minavam a banda pelo bolso. E os fãs sofriam com a violência policial, para eles todos eram maconheiros.”

Ainda em 1996, D2 e BNegão só não foram presos em Salvador porque saíram do show um agachado no banco de trás (BNegão) e outro dentro do porta-malas (D2).

Mas, em 1997, após show em Brasília, D2 foi detido acusado de fazer apologia da maconha. Ficou na delegacia por oito dias. “Acabou sendo bom, porque o discurso que estávamos propondo acabou sendo ainda mais discutido”, diz D2.

Para o vocalista, a importância do Planet Hemp para o rock brasileiro se divide em dois caminhos: o da militância (pela legalização da maconha) e o de promover um reencontro entre os jovens e a música do país.

“Era um som típico da nossa geração. O Raimundos misturava punk com forró. A Nação Zumbi, rock com maracatu. Nós trouxemos o samba. Reconectamos a música brasileira com a juventude.”

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#PraCegoVer: imagem de capa é um recorte da parte superior da arte gráfica da capa do livro que traz o nome “Planet Hemp” escrito em verde e no estilo pixação e ao centro, uma foto, em branco e preto, dos integrantes banda dentro de um bonde.

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