Ato religioso leva planta de maconha para ruas de São Paulo
Quem esteve presente na Marcha da Maconha da cidade teve sua atenção atraída para o espécime, num fato inédito para as MM. Para entender melhor sobre o tema que ainda é um mistério para muitos, conversamos com Fernando da Silva, mais conhecido como Profeta Verde, ativista e um dos organizadores desse ato: “O grande objetivo é levar a mensagem sobre a possibilidade e a realidade do uso religioso da maconha”, diz.
Apesar dos milhares de baseados sendo bolados e fumados e os diversos buds e prensados sendo triturados, nunca havia sido possível avistar uma planta real de maconha nas Marchas espalhadas pelo Brasil. Pelo menos até o último dia 6, quando um ato religioso levou até a Av. Paulista, em SP, um espécime da cannabis em um ato de explanação sobre o uso religioso da erva. Para entender melhor seus reais objetivos e sobre a relação da fé com a maconha, conversamos com Fernando da Silva, mais conhecido no ativismo como Profeta Verde.
“O grande objetivo do ato é levar a mensagem sobre a possibilidade e a realidade do uso religioso da maconha e reivindicar essa liberdade que hoje é infringida ou limitada”, conta: “Levar a planta também tem um caráter de materialidade sobre o tema, apresentá-la para as pessoas que fazem o uso, mas não sabem de onde vem, para terem a oportunidade de ver isso. E de alguma forma gerar uma polêmica, trazer uma energia positiva para a Marcha”.
Profeta faz parte da ACuCa (Associação Cultural Cannabica de São Paulo), associação dedicada a disseminar o tema da cannabis e que também acompanha o caso de Ras Geraldinho – líder religioso preso há 4 anos e que infelizmente ainda tem outros 10 para cumprir em sua injusta pena: “A relação do ato com o caso Ras Geraldinho é muito intensa. Por conta do nosso trabalho de auxiliar juridicamente e de procurar divulgar o assunto, surgiu essa proposta – não só por causa do rastafári, mas por causa de outras religiões que também podem fazem uso. Faz parte do objetivo da ação denunciar e divulgar o caso dele”.
“O andor usado na ação foi totalmente concebido, construído e ornado pelas mulheres da ACuCa, ousadas seguidoras de Santa Maria. Sem elas esta ação não teria se tornado realidade”, conta.
Se os caretas já enxergam usuários recreativos com maus olhos, quem dirá sobre o uso religioso – um tema que paira na falta de informação e conhecimento da sociedade proibicionista. Em terras tupiniquins não poderia ser diferente. Profeta conta que há muito preconceito, talvez ainda maior, porque no uso recreativo os usuários já sofrem por conta do estigma de vagabundo. “Porém, no religioso, é ainda mais delicado, pois as pessoas acabam tirando a credibilidade da religião por conta disso”, conta.
“Vimos isso no caso do Geraldinho: ‘Ah, esse cara quer uma desculpa para usar maconha’. O que é um absurdo, pois quem quer usar, usa. Não precisa entrar em religião nenhuma. Quando participamos de uma religião, buscamos uma espiritualidade, certamente nossa intenção não é usar uma droga e sim realizar atos de irmandade, de apoio, de solidariedade”.
Porém, assim como acontece aqui em nossa redação, Profeta acredita que a informação é a melhor maneira de quebrar esse e outros tantos tabus que se espalham como o cheiro da marola no ar: “Acredito que é por meio dessa cultura, dessa apresentação de novas informações sobre o tema é que vamos conseguir mudar a opinião pública. Essa lacuna a gente já tá preenchendo. A galera do Smoke Buddies tá fazendo esse trabalho muito bem, divulgando informação com qualidade e profundidade, inclusive apoiando a ACuCA, que também participa desse processo de preencher essas lacunas com informação decente para a sociedade”.
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Nosso desejo é que nas próximas Marchas o número de plantas se multiplique para que o debate se #normalize, seja ele religioso, medicinal ou recreativo: “É quase inocente você temer uma planta. Precisamos mostrar que a planta por si só é algo inofensivo e que há chance da gente se aproximar dela, tocá-la sem medo”. Normalize!
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